terça-feira, 10 de julho de 2012

Resumo do texto: “A Mídia e a Imagem do Idoso: Uma Questão de Ética” (INCONTRI)













            Não dá pra pensar em valores sem pensar em moral. E não dá para se falar em moral sem pensar em ética. Esta última é na verdade um parâmetro universal que parte da consciência humana e que nos permite avaliar se um determinado “valor” aceito e praticado por uma sociedade corresponde às necessidades e aspirações do homem moral ou não.
            Segundo a mídia (escrita), os valores de uma pessoa são medidos pelo grau de euforia corporal, de superioridade intelectual e física, e pela recusa de qualquer sentimento de fraternidade humana.
            No entanto, os valores morais do homem estão acima das sensações físicas, ou seja, o fato de alguém não poder usufruir de um prazer físico ou estar privado de alguma capacidade física ou mental não lhe arranca os direitos básicos como ser humano.
            Nos fica então a dúvida: a mídia reflete os valores e as idéias da sociedade (agindo como um espelho), ou ela é também uma fonte geradora de valores e de formas de comportamento?
            Visando o lucro supremo, ela se utiliza de uma linha sensacionalista, explorando sem piedade os problemas, fazendo com que a imagem do idoso fique prejudicada. Entre as conseqüências desde ato, podemos observar algumas: a distorção da mídia quanto à subjetividade de quem escreve, no qual o jornalista procura captar as “tendências do momento em certos comportamentos.
            Outra distorção que ocorre é a prioridade que é revelada pela mídia quando assuntos como prazer físicos, beleza corporal e bem desempenhos sexuais são considerados fontes infalíveis de felicidade e mesmo virtudes. Fica clara a existência de uma dificuldade em lidar com fatos naturais da existência, como velhice, doença e morte, e a mídia reflete e realimenta a ênfase exagerada de padrões de beleza e sexualidade.
            Não há dúvidas de que muitas matérias que ressaltam a velhice bonita, cheia de aventuras e atividades pretendem resgatar a continuidade do velho, trazendo-o de volta ao meio social, porém restringindo-se apenas na área de lazer. Devemos nos questionar até que ponto essas propostas não servem ainda mais para as sociedades se livrarem do velho (de maneira elegante).
            Outro tipo de matéria de refere à saúde. Uma questão bastante discutida é a avaliação das fontes médicas, sendo que muitas vezes os jornalistas se utilizam de fontes não seguras ou científicas, gerando matérias como “Fisioterapeuta que trata de estrelas diz ter achado a fonte da juventude”. E mesmo quando a fonte é segura, deve-se prestar atenção a algumas manipulações sensacionalistas.
            O jornalista antes de mais nada é um educador e, ao tratar da notícia, da situação social ou de denúncias que envolvam o idoso, o jornalista não pode perder de vista o caráter humanista de sua situação.
         
A situação de abandono pode acontecer em condições muito distintas na vida do ser humano. Dessa forma, entende-se por abandono uma situação vivenciada pelo homem que pode decorrer de múltiplos fatores, como ausência da convivência social, dificuldades relacionadas à convivência familiar, inexistência de família e de parentes, relações conflituosas vividas ao longo da vida nos grupos de pertencimento; dificuldades estabelecidas nos relacionamentos sociais, incapacidades funcionais e perda total de autonomia.

Quais situações podem levar ao abandono do idoso?

Em pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos do Envelhecimento da Universidade de Caxias do Sul, percebeu-se que o abandono do idoso está relacionado com sua história de vida e com características individuais de cada ser humano. Essas pesquisas apontam para questões que dizem respeito às relações humanas, principalmente as relações interpessoais que foram construídas ao longo da vida, e que, na velhice, se desdobram com mais clareza quando da necessidade de maior atenção, cuidados diante das fragilidades decorrentes do processo de envelhecimento. Muitas das situações de sentimentos de abandono são reflexos da perda de afetos, representada pela perda do companheiro, de filhos, familiares e amigos. Quando os vínculos afetivos são rompidos e as relações se mantêm apenas por meio de lembranças passadas, o idoso percebe o quanto está só e os motivos que geraram essa condição. A condição de abandono também pode estar relacionada a situações de fragilidade em que o idoso com incapacidade funcional é gradativamente isolado do circuito familiar, aumentando seu sentimento de dependência pelos limites impostos pela incapacidade. Os idosos conseguem diferenciar a situação de estar só da situação provocada pela solidão. Muitos vivem sozinhos por escolha própria, mas não se sentem isolados devido às condições que criaram para desenvolver suas atividades de vida diária, podendo inclusive sentir solidão decorrente da sua condição humana, mas não associam ao sentimento de abandono. Pode-se dizer então que existem variáveis objetivas e subjetivas que influenciam essa condição.
O que acontece com uma pessoa que entende que está vivendo uma situação de abandono?
Pelos relatos dos idosos, a situação de abandono conduz a sentimentos de sofrimento. O idoso espera que suas experiências com familiares, amigos, parentes se prolonguem para sempre, como se todos os ciclos de vida fossem iguais. Toma como referência experiências de inserção passadas em que não existiam problemas de relacionamento e nas quais ele ainda exercia o controle sobre os demais membros da família. Essa perda de poder é anulada pelas lembranças, onde o idoso se coloca ainda num lugar privilegiado, marcado apenas pelo espaço de suas memórias, sem estar preparado para enfrentar as fragilidades que seu envelhecimento trouxe. Dessa forma, muitos relatos demonstram que alguns idosos preferem as lembranças do passado ao enfrentamento das relações sociais no presente, utilizando como mecanismo estar num lugar confortável do passado, negando suas condições do presente e se escondendo do sofrimento e da dor que essa falta de preparação de envelhecer lhe impôs. Há ainda aqueles que assumem a condição do abandono e expressam tristeza por estarem sós e a consciência dos limites que enfrentam e da condição irreversível em que se encontram.
Casos de abandono podem vir a se tornar uma doença grave, por exemplo, desencadear o alcoolismo em uma pessoa que foi abandonada?
As condições de abandono podem gerar muitos tipos de doença, não necessariamente apenas o alcoolismo. Essas situações mostram que os indivíduos buscam mecanismos de alívio e conforto fora deles, sem resolver o problema, ou, pelo contrário, muitas vezes aumentam a distância que os separa dos familiares devido à presença de vícios, drogas, agressões, perturbações, entre outras situações que conduzem ao isolamento.

E quando acontece o caso da pessoa ter apenas um ente próximo e esse falece? Como é tratado o abandono nesses casos?
Atualmente essa situação já é comum na vida de muitos idosos. Com a longevidade, muitos idosos perdem parentes e amigos, de forma prematura, o que gera uma situação delicada de busca de cuidados fora da família. Certamente, as próximas gerações deverão estar atentas para essas situações. O fato de o homem viver mais o coloca numa situação de que seus filhos também estarão na terceira idade quando ele for um idoso mais velho, o que implica na possibilidade de viver mais que seus parentes mais jovens. É importante tomar conhecimento de que esse acréscimo de anos na vida do ser humano altera uma série de circunstâncias para as gerações atuais que seus pais e avós não vivenciaram com os pais e avós deles, principalmente porque morriam cedo. A conquista da longevidade traz para as próximas gerações muitas situações novas, não experimentadas anteriormente, e, consequentemente, todas têm um bônus e um ônus que as sustentam.

Como procurar ter uma vida melhor tendo passado por uma situação de abandono?
As situações de abandono são marcadas por experiências em que há sofrimento, tristeza, angústia, dor, ansiedade e solidão. Se o homem tiver consciência de seus limites, decorrentes de sua finitude, poderá se preparar para enfrentar essas situações. Certo é que não seremos diferentes quando idosos do que fomos ao longo de nossa vida. Por isso, não precisamos esperar chegar a essas situações para ter uma vida melhor. A consciência do presente e a manutenção de valores essenciais de respeito e amor à vida podem auxiliar a minimizar os problemas que nascem do abandono. Muitas vezes as respostas dos idosos encontram-se neles mesmos, o que demonstra que nem sempre bastam recursos externos, mas principalmente tocar os recursos internos, marcando posições positivas, de reconhecimento e apreciação da vida. A riqueza das experiências está no reconhecimento do que elas trazem de conhecimento.
Vania Herédia possui Doutorado em História das Américas pela Universidade de Gênova.

Apoio 65 - Idoso: Abandono na fase da velhice
O estado de abandono é dependente das fragilidades do idoso, que pode vir a ser tratado por outras pessoas devido à perda de autonomia, devidos aos laços afetivos ou familiares e até à ausência de um grupo social. Há situações em que só o idoso tem influência, pois só ele sabe como vai enfrentar cada uma das situações. Quer-se com isto dizer que em situações idênticas com pessoas diferentes a situação ou sentimento de abandono pode ou não colocar-se. Depende sempre de cada indivíduo e de como interpreta cada situação.
            O abandono na fase da velhice é entendido como um sentimento de tristeza e de solidão, que pode resultar de perdas que acabam por se reflectir no organismo (doenças) ou mesmo nas relações afectivas e sociais. Quando isto acontece o idoso acaba por se isolar de tudo e de todos. (Herédia, 2004)
            O abandono é considerado um sentimento de sofrimento, reportado a estas situações que faz em com que o idoso não conviva condignamente em sociedade.
            O sentir-se indefeso, a falta de partilha de afetos, a pouca comunicação estabelecida têm vindo a mudar os interesses do indivíduo e até a própria maneira de agir. O idoso pensa em partilhar experiências e em dar e receber amor. Quer entender o porquê de tantas desavenças no seio da sua família, o porquê da distância entre todos, se é nesta altura que ele precisa de ser mais apoiado.
            Assim, o abandono é visto como uma experiência. Uma reação que pode ser mais ou menos favorecida, dependendo sempre de cada caso. 
             O abandono pode ser visto como uma perda. A perda maior que o ser humano tem é a morte, é aceitar a morte de um ente querido que é também um ser humano. É abdicar de algo, não ter o que se precisa ou o que se queria para complementar a felicidade. As perdas não passam de condições que desencadeiam fragilidades do ser humano.
            Como o Ser Humano é preparado para a vida e não para a morte, isto faz com que não se compreenda muito bem o motivo da morte, pois é uma situação real e irreversível. Por isto, o Homem não está preparado psicologicamente para perdas, sejam elas de morte ou de valores.

Apoio 65 - Idoso: A solidão na fase da velhice
A redução do conjunto de amizades é um fator extremamente importante para o envelhecimento da população. A velhice passa por fases que são extremamente complicadas de ultrapassar, quando se começa por perder um amigo, em seguida um familiar, a saúde passa a ser reduzida, começa a necessitar de outros cuidados, o nível financeiro diminui e as relações pessoais e sociais passam por fases complicadas. A velhice traz a perda dos amigos e a aproximação com os familiares e por isso o idoso acaba por receber mais do que aquilo que pode dar.
            Este é um dos aspectos mais importantes, pois o idoso acaba por ter perdas de que jamais recuperará, estas perdas podem estar relacionadas com o decréscimo da qualidade de vida, o aumento das doenças e após estas sucumbir à morte. (Sousa, 2006)
            Desta forma podemos associar estas perdas à solidão. O conceito de solidão faz a ligação com o isolamento do idoso, o viver só. Quando se diz que vive sozinho implica que está só, mas não quer dizer que isto esteja correto porque estar só é revelador de que a pessoa está sozinha durante um certo período de tempo, sem qualquer tipo de companhia. Enquanto viver sozinho pode ser sinônimo de viver independentemente.
            Falar em solidão ou falar em isolamento social pode ser considerada uma expressão unívoca. Podemos então designá-la como a falta de comunicação entre as pessoas, com a comunidade ou em grupos, pois reporta-se à integração do indivíduo na sociedade.
            A solidão é uma noção com alguma subjetividade, menciona a falta de contacto social ou até a falta de vontade de partilhar informação ou socializar em sociedade. Desta forma, pode dizer-se que o indivíduo tem capacidade de socializar mas porque não o quer, não o faz. (Sousa, 2006) 
Publicada por Policiamento de Proximidade em 07:53 0 comentários 
(Pesquisa organizada por Joel Pola – psicólogo clínico – 05/2012)

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