Não dá pra pensar em valores sem
pensar em moral. E não dá para se falar em moral sem pensar em ética. Esta
última é na verdade um parâmetro universal que parte da consciência humana e
que nos permite avaliar se um determinado “valor” aceito e praticado por uma
sociedade corresponde às necessidades e aspirações do homem moral ou não.
Segundo a mídia (escrita), os
valores de uma pessoa são medidos pelo grau de euforia corporal, de
superioridade intelectual e física, e pela recusa de qualquer sentimento de
fraternidade humana.
No entanto, os valores morais do
homem estão acima das sensações físicas, ou seja, o fato de alguém não poder
usufruir de um prazer físico ou estar privado de alguma capacidade física ou
mental não lhe arranca os direitos básicos como ser humano.
Nos fica então a dúvida: a mídia
reflete os valores e as idéias da sociedade (agindo como um espelho), ou ela é
também uma fonte geradora de valores e de formas de comportamento?
Visando o lucro supremo, ela se utiliza
de uma linha sensacionalista, explorando sem piedade os problemas, fazendo com
que a imagem do idoso fique prejudicada. Entre as conseqüências desde ato,
podemos observar algumas: a distorção da mídia quanto à subjetividade de quem
escreve, no qual o jornalista procura captar as “tendências do momento em
certos comportamentos.
Outra distorção que ocorre é a
prioridade que é revelada pela mídia quando assuntos como prazer físicos,
beleza corporal e bem desempenhos sexuais são considerados fontes infalíveis de
felicidade e mesmo virtudes. Fica clara a existência de uma dificuldade em
lidar com fatos naturais da existência, como velhice, doença e morte, e a mídia
reflete e realimenta a ênfase exagerada de padrões de beleza e sexualidade.
Não há dúvidas de que muitas
matérias que ressaltam a velhice bonita, cheia de aventuras e atividades
pretendem resgatar a continuidade do velho, trazendo-o de volta ao meio social,
porém restringindo-se apenas na área de lazer. Devemos nos questionar até que
ponto essas propostas não servem ainda mais para as sociedades se livrarem do
velho (de maneira elegante).
Outro tipo de matéria de refere à
saúde. Uma questão bastante discutida é a avaliação das fontes médicas, sendo
que muitas vezes os jornalistas se utilizam de fontes não seguras ou
científicas, gerando matérias como “Fisioterapeuta que trata de estrelas diz
ter achado a fonte da juventude”. E mesmo quando a fonte é segura, deve-se
prestar atenção a algumas manipulações sensacionalistas.
O jornalista antes de mais nada é um
educador e, ao tratar da notícia, da situação social ou de denúncias que
envolvam o idoso, o jornalista não pode perder de vista o caráter humanista de
sua situação.
A
situação de abandono pode acontecer em condições muito distintas na vida do ser
humano. Dessa forma, entende-se por abandono uma situação vivenciada pelo homem
que pode decorrer de múltiplos fatores, como ausência da convivência social,
dificuldades relacionadas à convivência familiar, inexistência de família e de
parentes, relações conflituosas vividas ao longo da vida nos grupos de
pertencimento; dificuldades estabelecidas nos relacionamentos sociais,
incapacidades funcionais e perda total de autonomia.
Quais situações podem levar ao
abandono do idoso?
Em
pesquisas realizadas pelo Núcleo de
Estudos do Envelhecimento da Universidade de Caxias do Sul, percebeu-se que
o abandono do idoso está relacionado com sua história de vida e com
características individuais de cada ser humano. Essas pesquisas apontam para
questões que dizem respeito às relações humanas, principalmente as relações
interpessoais que foram construídas ao longo da vida, e que, na velhice, se
desdobram com mais clareza quando da necessidade de maior atenção, cuidados
diante das fragilidades decorrentes do processo de envelhecimento. Muitas das
situações de sentimentos de abandono são reflexos da perda de afetos,
representada pela perda do companheiro, de filhos, familiares e amigos. Quando
os vínculos afetivos são rompidos e as relações se mantêm apenas por meio de
lembranças passadas, o idoso percebe o quanto está só e os motivos que geraram
essa condição. A condição de abandono também pode estar relacionada a situações
de fragilidade em que o idoso com incapacidade funcional é gradativamente
isolado do circuito familiar, aumentando seu sentimento de dependência pelos
limites impostos pela incapacidade. Os idosos conseguem diferenciar a situação
de estar só da situação provocada pela solidão. Muitos vivem sozinhos por
escolha própria, mas não se sentem isolados devido às condições que criaram
para desenvolver suas atividades de vida diária, podendo inclusive sentir
solidão decorrente da sua condição humana, mas não associam ao sentimento de
abandono. Pode-se dizer então que existem variáveis objetivas e subjetivas que
influenciam essa condição.
O que acontece com uma pessoa que
entende que está vivendo uma situação de abandono?
Pelos
relatos dos idosos, a situação de abandono conduz a sentimentos de sofrimento.
O idoso espera que suas experiências com familiares, amigos, parentes se
prolonguem para sempre, como se todos os ciclos de vida fossem iguais. Toma
como referência experiências de inserção passadas em que não existiam problemas
de relacionamento e nas quais ele ainda exercia o controle sobre os demais
membros da família. Essa perda de poder é anulada pelas lembranças, onde o
idoso se coloca ainda num lugar privilegiado, marcado apenas pelo espaço de
suas memórias, sem estar preparado para enfrentar as fragilidades que seu
envelhecimento trouxe. Dessa forma, muitos relatos demonstram que alguns idosos
preferem as lembranças do passado ao enfrentamento das relações sociais no
presente, utilizando como mecanismo estar num lugar confortável do passado,
negando suas condições do presente e se escondendo do sofrimento e da dor que
essa falta de preparação de envelhecer lhe impôs. Há ainda aqueles que assumem
a condição do abandono e expressam tristeza por estarem sós e a consciência dos
limites que enfrentam e da condição irreversível em que se encontram.
Casos de abandono podem vir a se
tornar uma doença grave, por exemplo, desencadear o alcoolismo em uma pessoa
que foi abandonada?
As
condições de abandono podem gerar muitos tipos de doença, não necessariamente
apenas o alcoolismo. Essas situações mostram que os indivíduos buscam
mecanismos de alívio e conforto fora deles, sem resolver o problema, ou, pelo
contrário, muitas vezes aumentam a distância que os separa dos familiares
devido à presença de vícios, drogas, agressões, perturbações, entre outras
situações que conduzem ao isolamento.
E quando acontece o caso da pessoa ter
apenas um ente próximo e esse falece? Como é tratado o abandono nesses casos?
Atualmente
essa situação já é comum na vida de muitos idosos. Com a longevidade, muitos idosos
perdem parentes e amigos, de forma prematura, o que gera uma situação delicada
de busca de cuidados fora da família. Certamente, as próximas gerações deverão
estar atentas para essas situações. O fato de o homem viver mais o coloca numa
situação de que seus filhos também estarão na terceira idade quando ele for um
idoso mais velho, o que implica na possibilidade de viver mais que seus
parentes mais jovens. É importante tomar conhecimento de que esse acréscimo de
anos na vida do ser humano altera uma série de circunstâncias para as gerações
atuais que seus pais e avós não vivenciaram com os pais e avós deles,
principalmente porque morriam cedo. A conquista da longevidade traz para as
próximas gerações muitas situações novas, não experimentadas anteriormente, e,
consequentemente, todas têm um bônus e um ônus que as sustentam.
Como procurar ter uma vida melhor
tendo passado por uma situação de abandono?
As
situações de abandono são marcadas por experiências em que há sofrimento,
tristeza, angústia, dor, ansiedade e solidão. Se o homem tiver consciência de
seus limites, decorrentes de sua finitude, poderá se preparar para enfrentar
essas situações. Certo é que não seremos diferentes quando idosos do que fomos
ao longo de nossa vida. Por isso, não precisamos esperar chegar a essas
situações para ter uma vida melhor. A consciência do presente e a manutenção de
valores essenciais de respeito e amor à vida podem auxiliar a minimizar os
problemas que nascem do abandono. Muitas vezes as respostas dos idosos encontram-se
neles mesmos, o que demonstra que nem sempre bastam recursos externos, mas
principalmente tocar os recursos internos, marcando posições positivas, de
reconhecimento e apreciação da vida. A riqueza das experiências está no
reconhecimento do que elas trazem de conhecimento.
Vania
Herédia possui Doutorado em História das Américas pela Universidade de Gênova.
Apoio 65 - Idoso: Abandono na fase da
velhice
O estado de abandono é dependente das
fragilidades do idoso, que pode vir a ser tratado por outras pessoas devido à
perda de autonomia, devidos aos laços afetivos ou familiares e até à ausência
de um grupo social. Há situações em que só o idoso tem influência, pois só ele
sabe como vai enfrentar cada uma das situações. Quer-se com isto dizer que em
situações idênticas com pessoas diferentes a situação ou sentimento de abandono
pode ou não colocar-se. Depende sempre de cada indivíduo e de como interpreta
cada situação.
O abandono na fase da velhice é
entendido como um sentimento de tristeza e de solidão, que pode resultar de
perdas que acabam por se reflectir no organismo (doenças) ou mesmo nas relações
afectivas e sociais. Quando isto acontece o idoso acaba por se isolar de tudo e
de todos. (Herédia, 2004)
O abandono é considerado um
sentimento de sofrimento, reportado a estas situações que faz em com que o
idoso não conviva condignamente em sociedade.
O sentir-se indefeso, a falta de
partilha de afetos, a pouca comunicação estabelecida têm vindo a mudar os interesses
do indivíduo e até a própria maneira de agir. O idoso pensa em partilhar
experiências e em dar e receber amor. Quer entender o porquê de tantas
desavenças no seio da sua família, o porquê da distância entre todos, se é
nesta altura que ele precisa de ser mais apoiado.
Assim, o abandono é visto como uma
experiência. Uma reação que pode ser mais ou menos favorecida, dependendo
sempre de cada caso.
O abandono pode ser visto como uma
perda. A perda maior que o ser humano tem é a morte, é aceitar a morte de um
ente querido que é também um ser humano.
É abdicar de algo, não ter o que se precisa ou o que se queria para
complementar a felicidade. As perdas não passam de condições que desencadeiam
fragilidades do ser humano.
Como o Ser Humano é preparado para
a vida e não para a morte, isto faz com que não se compreenda muito bem o
motivo da morte, pois é uma situação real e irreversível. Por isto, o Homem não
está preparado psicologicamente para perdas, sejam elas de morte ou de valores.
Apoio
65 - Idoso: A solidão na fase da velhice
A redução do conjunto de amizades é um fator
extremamente importante para o envelhecimento da população. A velhice passa por
fases que são extremamente complicadas de ultrapassar, quando se começa por
perder um amigo, em seguida um familiar, a saúde passa a ser reduzida, começa a
necessitar de outros cuidados, o nível financeiro diminui e as relações
pessoais e sociais passam por fases complicadas. A velhice traz a perda dos
amigos e a aproximação com os familiares e por isso o idoso acaba por receber
mais do que aquilo que pode dar.
Este é um dos aspectos mais
importantes, pois o idoso acaba por ter perdas de que jamais recuperará, estas
perdas podem estar relacionadas com o decréscimo da qualidade de vida, o
aumento das doenças e após estas sucumbir à morte. (Sousa, 2006)
Desta forma podemos associar estas
perdas à solidão. O conceito de solidão faz a ligação com o isolamento do
idoso, o viver só. Quando se diz que vive sozinho implica que está só, mas não
quer dizer que isto esteja correto porque estar só é revelador de que a pessoa
está sozinha durante um certo período de tempo, sem qualquer tipo de companhia.
Enquanto viver sozinho pode ser sinônimo de viver independentemente.
Falar em solidão ou falar em
isolamento social pode ser considerada uma expressão unívoca. Podemos então
designá-la como a falta de comunicação entre as pessoas, com a comunidade ou em
grupos, pois reporta-se à integração do indivíduo na sociedade.
A solidão é uma noção com alguma subjetividade,
menciona a falta de contacto social ou até a falta de vontade de partilhar
informação ou socializar em sociedade. Desta forma, pode dizer-se que o
indivíduo tem capacidade de socializar mas porque não o quer, não o faz.
(Sousa, 2006)
Publicada
por Policiamento de Proximidade em 07:53 0 comentários
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