domingo, 26 de maio de 2013

MEU FILHO NÃO MERECE NADA


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A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
AUTORA: ELIANE BRUM



Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.
               

terça-feira, 21 de maio de 2013

COMPORTAMENTO -BRIGAS NO CASAMENTO



Brigas no casamento: atitudes simples podem evitá-las

Descubra o que fazer para melhorar o seu relacionamento com o par e como evitar desentendimentos

Texto: Lívia Neves

Muitos casais costumam procurar ajuda terapêutica quando não encontram soluções para frequentes discussões que ocorrem no dia a dia. Em geral, motivos considerados “bobos”, que originam pequenas brigas, surgem com a insegurança que o homem gera na mulher e vice-versa.
Na hora do nervosismo, os casais não percebem o outro. Eles gritam, xingam e não querem ouvir. Nesse momento de exaltação, todo cuidado é pouco! Na hora da discussão, é preciso “igualar os mapas”, aconselha a psicóloga Dirce Katayama, isto é, “aprender a escutar e entender realmente o que o outro está dizendo.
O psicólogo Lucas Faria Gonçalves destaca que o casal precisa desenvolver a competência de enxergar o outro. “Saber conversar, negociar e ceder parece ser algo simples, mas na verdade não é. São habilidades que exigem aprendizado e treino”, concluí.
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Os desentendimentos podem ficar mais frequentes quando as pessoas conhecem mais a fundo umas às outras. Dirce revela que a intimidade faz com que os parceiros “deixem seus comportamentos superficiais ou sociais de lado para expressarem verdadeiramente o que sentem, seja na sua dor ou nas suas ansiedades”.
Muitas brigas começam pelo simples motivo: um casal é composto por duas pessoas com histórias de vida distintas e com valores e ideais divergentes. Lucas sugere que, nessas situações, “é preciso negociar para que nenhuma das partes se sinta prejudicada diante das decisões”.
Para evitar que esses momentos de tensão se estendam por horas ou até anos, deve-se identificar os descontentamentos e resolvê-los, além de perceber o momento mais apropriado para conversar. Determinadas atitudes, quando evitadas, também podem contribuir para a harmonia entre o casal. “Dizer que o outro já bebeu demais, na frente dos outros, com certeza só irá tumultuar mais”, afirma Dirce. As preocupações do trabalho também podem ser um problema dentro de casa, portanto, deve-se evitar trazer a tensão da empresa para o lar e não descontar suas frustrações em seu parceiro.
Também é importante saber colocar um ponto final nos assuntos mal-resolvidos. Se você tem um problema, converse com o seu parceiro tranquilamente e resolva. Dirce sugere que é necessário perdoar verdadeiramente, compreendendo as necessidades e limitações do outro. A comunicação verbal representa 50% do estado interno da pessoa. “De nada adianta dizer que está tudo bem e depois ficar irada por dentro”, finaliza Dirce.
Lucas ainda indica com leitura para os casais uma crônica do psicanalista Rubem Alves que compara o relacionamento a dois com uma competição esportiva. “Tênis x Frescobol fala sobre como o homem e a mulher podem encarar o casamento, de maneira saudável ou não.

MEDO DAS FAMÍLIAS PAULISTANAS



Drogas na família são maior temor do paulistano diz Datafolha
 
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* FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO 

O medo da inflação foi trocado pelo temor de ter algum jovem da família envolvido com drogas.
Foi esse o movimento do medo na cidade de São Paulo em 30 anos, registrado pelo Datafolha ao refazer a sua primeira pesquisa.
O primeiro levantamento do departamento que seria o embrião do Datafolha, publicado há 30 anos, captou uma cidade atemorizada pela inflação, o principal problema do país na época.
A alta do custo de vida era apontada como o maior medo para 26% dos paulistanos.
O medo maior agora, de acordo com 45% dos moradores da cidade entrevistados pela Datafolha, é o do envolvimento de jovens da família com tóxicos.
Em 1983, esse medo aparecia em segundo lugar no ranking da pesquisa, com 23%.
A inflação, associada à imagem do dragão em 1983, virou um gatinho em 2013. Apenas 7% apontam a alta do custo de vida como o seu principal temor.
O Banco Central subiu os juros neste mês para combater a inflação, que voltou a preocupar o governo e o mercado financeiro, mas ela está muito longe dos níveis observados 30 anos atrás.
O medo da inflação foi o índice que mais recuou quando se compara os dois levantamentos do Datafolha.
Em 1983, a inflação anual passou de 200%, segundo o Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas. Neste ano, ela deve ficar abaixo de 6%, segundo projeções de analistas do mercado.
Outro medo que despencou foi o de perder o emprego: era citado por 18% há 30 anos e por apenas 5% agora.




VIOLÊNCIA                                        
Se a inflação perdeu importância no ranking dos medos nesses 30 anos, a violência continua uma constante.
O medo de ter a casa invadida por assaltantes era considerado o maior temor por 22% há 30 anos e aparecia em terceiro lugar na lista elaborada pelo Datafolha.
Hoje, esse é o principal medo de acordo com 26% e subiu para o segundo lugar.
O medo de ser assaltado na rua cresceu ainda mais nesse período. Em 1983, esse temor aparecia em quinto lugar na pesquisa, com 9% das menções. Agora, está em terceiro, e é o maior medo para 16% dos paulistanos.
Há 30 anos a soma do medo de ter a casa invadida e de ser assaltado (31%) na rua colocava a violência no topo do ranking, acima da inflação.
Outra constante nas duas pesquisas são os que se declaram destemidos. Eram 2% em 1983. Agora é 1%.