segunda-feira, 20 de agosto de 2012

DIREITO DE SER TRISTE





Meu direito de ser triste

Tentamos fugir da tristeza porque ela traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor.

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Pego emprestado o titulo de um artigo do psiquiatra infantil, Oswaldo Di Loretto para falar do quanto tendemos a fugir das tristezas que são naturais no decorrer da vida. Nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, o pranto fazia parte da cultura israelita. Era comum as pessoas aparecerem em público vestidas com panos de saco e com cinzas sobre a cabeça, como sinal de uma tristeza profunda decorrente do luto ou de um drama humanamente sem solução. Todos respeitavam a atitude, e muitos eram solidários ou se identificavam com o sofredor. Ou seja, havia um espaço na vida das pessoas para se entristecer e aceitar a tristeza do outro.



O tempo passou, alguns hábitos foram extintos e novas posturas ganharam espaço. Hoje, vivemos uma época em que a tristeza é vista como um mal que deve ser evitado a todo e qualquer custo. Isso fica claro quando não queremos contar a verdade sobre um diagnóstico de doença terminal e usamos argumentos paliativos em relação ao doente, ou quando oferecemos calmantes a alguém antes de contar da morte de um amigo ou parente próximo. Em muitos cultos religiosos, os fiéis são até estimulados a jogar a tristeza fora, como se o abatimento e a angústia fossem sentimentos prejudiciais e não aceitos por Deus.
E o problema começa bem cedo. As crianças não têm a permissão para ficarem tristes. Os pais sempre dão um jeito de arrumar algum entretenimento para o pequeno que quebrou o brinquedo favorito ou perdeu o bichinho de estimação; rapidamente, o filho choroso é contemplado com um novo brinquedo ou outro animal, sem ter tempo para internalizar o sofrimento e amadurecer diante da dor da perda. Pior ainda é quando se oferece um chocolate ou bala para a criança entristecida, como que querendo “adoçar” algo que deve ser vivenciado, e não camuflado. No caso dos adultos, é grande o arsenal de drogas medicamentosas que têm a capacidade de amenizar e bloquear a tristeza, promovendo uma alegria mecanizada e sem contentamento. Em nossa sociedade, toda manifestação de tristeza é vista como um tipo de depressão que precisa ser medicada.
Esquecemo-nos, contudo, que quem não consegue vivenciar a tristeza em toda sua profundidade também não conseguirá sentir a alegria em toda sua intensidade. Engana-se quem pensa que só a alegria expressa satisfação e contentamento na vida. É possível experimentarmos a tristeza, mesmo que intensa, e ainda assim revelarmos um coração satisfeito e contente, produzindo tesouros para nós mesmos e para os outros. “A poesia nasce da tristeza”, diz Rubem Alves.

Todos, mais cedo ou mais tarde, passaremos por tristezas. Algumas serão leves e passageiras; outras, profundas, como as perdas trágicas e inesperadas. Outros carregarão sempre uma história de privação e desamparo. Porém, podemos reconhecer as dores vividas e encontrar, no lamento – às vezes, milagrosamente –, cicatrização das feridas. Claro, tentamos fugir da tristeza porque é um sentimento que traz dor e desconforto. No entanto, há também beleza e crescimento no caminho da dor. A compaixão, a misericórdia, a ternura e o amor são desenvolvidos com muito mais profundidade por aqueles que se abrem e corajosamente vão até o fim no processo de se entregar às situações de profunda tristeza, estejam elas presentes ou circunscritas ao passado.
Salomão, rei de Israel nos tempos bíblicos e tido como um homem extremamente sábio, descobriu essa realidade. São dele as palavras: “A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”. Cristo, por sua vez, experimentou o pranto publicamente, quando chorou a morte de seu amigo Lázaro. A caminho do Calvário, o Filho de Deus entristeceu-se profundamente diante da perspectiva de tamanho sofrimento. Em outras ocasiões, contudo, ele foi a festas e alegrou-se com seus discípulos. Então, podemos concluir que tanto a tristeza quanto a alegria são sentimentos que fazem parte do ser gente.
Quem conhece a tristeza no próprio ser sabe acolher as pessoas que passam pela dor. Gente assim consegue aceitar, respeitar e criar espaços para que aqueles que derramam lágrimas de tristeza, seja lá qual for a razão.

BÍBLIA - O LIVRO QUE TRANSFORMA


FONTE: Revista Cristianismo Hoje - Artigos / Teologia
                          
O LIVRO QUE TRANSFORMA

Pesquisas mostram que leitura bíblica frequente tende a mudar até mesmo opiniões mais conservadoras.

Por Aaron B. Franzen


  
Todo cristão sabe: ler a Bíblia e meditar nas Escrituras Sagradas é prática recomendável é necessária para uma vida espiritual saudável. Estudos e mais estudos são feitos para descobrir a quantidade de tempo que as pessoas dedicam à leitura bíblica, a credibilidade que dão aos relatos da Palavra de Deus e no quê esta disciplina espiritual influencia sua fé. O que nem sempre se leva em conta são os efeitos disso sobre outras áreas da vida humana, como posição política, comportamento social e opinião diante de temas considerados polêmicos. Pois levantamentos recente descobriram que o contato frequente com as Escrituras pode mudar até mesmo opiniões culturalmente arraigadas. Por mais paradoxal que seja, uma leitura constante e metódica da Bíblia pode até mesmo tornar a pessoa mais liberal.

Sabe-se que 89% dos lares nos Estados Unidos possuem ao menos um exemplar das Sagradas Escrituras cristãs (ainda não há pesquisa similar no Brasil). Mas ter o Livro Sagrado em casa não significa o mesmo que lê-lo com frequência – e os resultados de pesquisas a respeito dos hábitos de leitura bíblica podem ser surpreendentes. Diversos estudos realizados com o fim de examinar a influência da Bíblia têm mostrado a questão apenas do ponto de vista de sua inspiração e dos métodos interpretação. O Instituto Gallup, por exemplo, há quatro décadas, pergunta aos americanos em que medida o conteúdo bíblico deve ser interpretado de forma literal. Comparativamente, muito pouco tem sido pesquisado sobre o que acontece quando alguém lê a Bíblia, de fato – especialmente, quando isso é feito de forma independente e fora do ambiente de culto.

É de se supor que essas questões sejam redundantes, ou seja, que pesquisas do gênero sejam apenas meras formas de medir a religiosidade das pessoas, de dimensionar a frequência com que vão à igreja, se interpretam a Bíblia literalmente ou não, e ainda quanto tempo costumam gastar em oração. Quando esses indicadores são analisados, normalmente, encontra-se uma correlação direta com o conservadorismo moral e político. Isso é uma tendência, mas está longe de ser a regra. Acontece que ler a Bíblia a sós faz diferença também. E o mais interessante é que essa diferença pode ser o oposto do esperado.

A leitura frequente das Escrituras tem alguns efeitos previsíveis, como por exemplo, aumentar a oposição do crente ao pecado em geral e a algumas questões em particular, como a condenação ao aborto ou à prática homossexual. Leitores costumeiros do livro também acreditam que a ciência ajude, de alguma forma, a revelar a glória de Deus, mas não têm muitas esperanças de que os cientistas, algum dia, serão capazes de resolver os problemas da humanidade. Mas, em contrapartida, o contato frequente com a Bíblia faz com que o leitor se torne mais propenso a concordar com os liberais em alguns assuntos. Isso acontece mesmo quando se leva em conta as convicções políticas, o nível educacional, a renda, o gênero, a raça e outros critérios, como a filiação religiosa e o ponto de vista pessoal sobre o literalismo bíblico.



TERRORISMO, JUSTIÇA E CIÊNCIA

Em 2007, a BaylorReligionSurvey (“Pesquisa Baylor sobre religião”) perguntou aos norte-americanos com que frequência eles liam a Bíblia sozinhos. Os respondentes tinham que escolher entre cinco respostas padrão, que iam de “nunca” a “várias vezes por semana”. A pesquisa também investigou o posicionamento político dos entrevistados e descobriu coisas interessantes. Na ocasião, as pessoas foram questionados, por exemplo, se o governo de seu país deveria ter poderes ampliados para lutar contra o terrorismo – uma referência ao Ato Patriótico (lei criada após os atentados de 11 de setembro de 2001, a qual dá ao Estado o direito de espionar e interrogar possíveis suspeitos de terrorismo). Segundo a pesquisa, quanto maior a frequência da leitura bíblica, menor o apoio dos entrevistados ao Ato Patriótico.

A leitura frequente da Bíblia também influencia a visão sobre a Justiça. Como era de se esperar, os respondentes mais liberais tenderam a discordar da frase: “Os criminosos deveriam ser punidos com mais severidade”. No entanto, os leitores mais frequentes da Bíblia também o fizeram. O contato com a mensagem bíblica, igualmente, afeta o apoio dos leitores à pena de morte. De acordo com a pesquisa, quanto maior a frequência de leitura das Escrituras, maior o apoio dos respondentes ao fim da pena capital. Ler a Bíblia também mexe com as atitudes do leitor em relação à ciência. Quando as pessoas são questionadas sobre o literalismo bíblico, não são encontradas diferenças estatísticas significativas quanto ao fato de ciência e religião serem compatíveis entre si – no entanto, quanto mais uma pessoa lê a Palavra de Deus, mais ela tende a acreditar que as duas esferas, consideradas tão antagônicas ao longo dos séculos, são, sim, compatíveis.

Outro achado interessante dos estudos refere-se a atitudes morais. A pesquisa perguntou se, para se tornar uma pessoa melhor, quão importante é buscar, ativamente, a justiça econômica e social. Novamente, como seria de se esperar, aqueles com tendências políticas liberais se mostraram mais propensos a dizer que isso é importante de alguma forma. Mas aqueles que leem a Bíblia com mais frequência também concordaram. De fato, eles foram quase 35% mais propensos a responder “sim” a tal pergunta.

Da mesma forma, ao contrário do estereótipo da mídia liberal, aqueles que são mais comprometidos com a fé – por lerem as Escrituras mais direta e frequentemente, por exemplo – são os que dão maior apoio à justiça social e econômica. Na verdade, leitores literalistas e politicamente conservadores são quase tão propensos a abraçar as causas sociais quanto aqueles que se classificam como politicamente liberais e críticos do literalismo. Na mesma linha, a pesquisa também perguntou se alguém deve reduzir o consumo como forma de se tornar uma pessoa melhor. Tanto os politicamente liberais quanto os leitores mais frequentes da Bíblia se mostraram mais propensos a dizer que sim.

Tome-se, por exemplo, um evangélico que seja politicamente conservador, tenha cursado o ensino superior, possua uma renda razoável, creia literalmente na mensagem da Bíblia, mas que não leia o livro sagrado com tanta frequência. Essa pessoa terá apenas 22% de chance de dizer que reduzir o consumo é um comportamento ético. Contudo, a mesma pergunta dirigida a alguém com as mesmas características, mas que leia a Bíblia frequentemente, terá chance 44% maior de ser respondida da mesma maneira.



SIGNIFICADO PESSOAL

A discussão se torna ainda mais interessante quando se considera quem é mais propenso a ler a Bíblia com frequência. Os evangélicos e os que a interpretam literalmente são os mais conservadores nos tópicos citados. Em outras palavras, aqueles que leem as Escrituras com mais frequência são mais conservadores; entretanto, quanto mais leem, mais tendem a mudar seus pontos de vista a respeito, pelo menos, desses assuntos. Por que isso acontece? Uma explicação possível é a seguinte: os leitores tendem a ter expectativas em relação a um texto antes de iniciar sua leitura. Dada a proeminência do texto bíblico entre os cristãos, é de se supor que muitos pensem que já sabem tudo o que ali está escrito, mesmo antes de começar a ler Gênesis 1. No entanto, uma vez que, de fato, iniciem a leitura, serão surpreendidos por um novo conteúdo que passará a estar integrado àquele que lhes era familiar. A verdade é que as crenças mudam com as novas informações acrescentadas.

Mas não será necessariamente o conteúdo novo a surpreender o leitor. Basta apenas que esse conteúdo seja pessoalmente relevante para ele. Leitores frequentes da Bíblia podem ter visões divergentes quanto à sua autoridade, mas tendem a lê-la de maneira devocional, na expectativa de que esta lhes fale algo diretamente. E eles a lerão até se depararem com algo que realmente lhes chame a atenção. Mesmo que o leitor não creia plenamente nas Sagradas Escrituras como a infalível Palavra de Deus e que o texto bíblico careça de um bocado de interpretação, esse momento pode ter um tremendo significado pessoal.

Mas a leitura bíblica não é encarada, necessariamente, como algo subjetivo. Seus leitores também percebem as Escrituras como sendo a Palavra de Deus, ainda que escrita por autores que tinham contextos e intenções específicas, e desejam se tornar cada vez mais semelhantes ao que ali está escrito. Afinal, para que serviria ler a Bíblia quando não se tem qualquer desejo de abraçar o que ela ensina? Em outras palavras, ler o texto bíblico pode, por vezes, mudar as visões e atitudes dos leitores, os quais acabam sendo supreendidos pelo que ali está escrito.

 
Aaron B. Franzen é graduando do Departmento de Sociologia da Universidade Baylor, nos EUA


CASTRAÇÃO ESPIRITUAL



fonte: Colunas / Eduardo Rosa – Revista Cristianismo Hoje

Livre das formatações religiosas
O controle, a manipulação pelo medo e a lei fazem surgir grupos numericamente expressivos, que convivem em ambientes castradores onde a graça e a liberdade não têm espaço.


É interessante o que acontece dentro das penitenciárias brasileiras. Quase todas elas, hoje, possuem um grupo de evangélicos como internos. Em sua maioria, eles conheceram a Cristo depois da condenação, e agora fazem questão de viver uma proposta espiritual rígida, legalista, até mesmo punitiva. Essas pessoas, quando despertam para uma experiência religiosa, adaptam-se melhor dentro desse tipo de doutrina. Como se não bastasse sua situação encarceramento físico, os crentes das prisões ainda optam por participar de congregações cujas normas e regras os aprisionam mais ainda! Psicologicamente, é uma escolha, até certo ponto, compreensível. Presidiários cristãos precisam de uma religiosidade capaz de impor limites a seus desejos e comportamentos – os mesmos que, um dia, afloraram de maneira desordenada, levando-os para trás das grades. Sabem , portanto, o quão perigosos são os instintos; melhor, então, controlá-los. E nada mais eficiente para isso do que a imagem de um Deus controlador.

Mas não são apenas detentos que têm dificuldade para lidar com a liberdade espiritual. Cada vez mais pessoas estão aderindo a experiências religiosas e eclesiásticas nas quais se depende cada veza mais da figura de uma pessoa ou de um grupo de pessoas para ditar comportamentos e pensamentos. O controle, a manipulação pelo medo e a lei fazem surgir grupos numericamente expressivos, que convivem em ambientes castradores onde a graça e a liberdade não têm espaço.

Felizmente, não precisa ser assim! A espiritualidade livre vivida por Jesus é o antídoto capaz de nos curar desse tipo de patologia religiosa. Cristo viveu e pregou uma espiritualidade da liberdade – e, por consequência, libertadora. Ele foi livre das formatações religiosas dos seus dias. Não se deixou aprisionar pelos esquemas teológicos dos escribas; rejeitou a prisão intelectual dos saduceus, escravos da razão e incapazes de crer no sobrenatural, na ressurreição; tampouco viveu encarcerado no deserto, como os essênios. O Filho de Deus também condenou a neurose comportamental dos fariseus, para quem tudo era uma questão de retidão do agir. Livre, Jesus passeou no pátio humano das ofertas aprisionantes. Livre dos esquemas religiosos, pôde se aproximar daqueles de quem a religião era inimiga: prostitutas, publicanos, leprosos, pecadores...

E o que dizer de sua liberdade das circunstâncias? “O barco vai afundar!”, gritavam todos, assustados com as ondas. No entanto, lá estava o Mestre, cochilando, com o coração acima daquilo que apavorava os outros. E o que dizer da ditadura do amanhã? “O que comeremos? Como nos vestiremos? O que vai acontecer?”, perguntamos. Diz ele: “Não se preocupem. O Deus das orquídeas, dos lírios e dos pássaros vai cuidar de vocês”. Que liberdade maravilhosa nasce quando vivemos isso!

E sua saúde emocional? Que imensa liberdade de sentimentos e emoções! O Salvador viveu aqui livre para rir e chorar. Era, também, livre para se irritar e até usar um chicote. E livre para dizer ao Pai que a carga sobre ele estava pesada. “Passa de mim o cálice” era o pedido de alguém que não estava preso a um papel social, que não tinha que viver para alimentar sua posição eclesiástica ou manter a liturgia dos cargos. Ele não impostava a voz, não fingia; era simplesmente quem era, fosse numa madrugada solitária de oração ou diante das multidões.

E sua liberdade com Deus? Por gozar de uma relação amorosa e graciosa com o Todo-poderoso, Cristo o chama de abba, ou “paizinho” –  um sussurro de afeto. Jesus era tão livre que, ao enfrentar o absurdo da dor e do sofrimento da cruz, teve coragem de perguntar a Deus o motivo de tê-lo abandonado. Ah! Que essa liberdade da espiritualidade de Jesus abra as portas das nossas prisões e nos conduza a um jeito de ser e viver no qual sejamos livres dos esquemas religiosos que nos escravizam! Igualmente, que essa espiritualidade libertadora nos exima da massacrante luta por ganhar mais agora para viver melhor no futuro, das expectativas das pessoas, dos papéis que desempenhamos e de uma figura divina com a qual não podemos brigar e nem chamar, carinhosamente, de paizinho. Afinal, como disse um dos maiores intérpretes da mente e da vida de Jesus, foi para a liberdade que ele nos libertou!


Que essa espiritualidade livre abra as portas das nossas prisões e nos conduza a um jeito de ser e viver no qual sejamos libertos dos esquemas religiosos que nos escravizam.