terça-feira, 10 de julho de 2012

O Idoso Face ao Abandono Familiar uma Forma de Violência

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O Idoso Face ao Abandono Familiar – Uma Forma de Violência, no dia 15/06, no Plenário dos Conselheiros da OAB SP

LEVANTAMENTO HISTÓRICO SOBRE A IMAGEM SOCIAL DO IDOSO NA COMUNIDADE

        Pessoas idosas sempre existiram na história da humanidade. Hoje viver até os 60, 70, 80 anos de idade tornou uma experiência vivida por milhões de pessoas em todo mundo. Esse aumento da longevidade mesmo possuindo algum tipo de incapacidade, é conseqüência de diversos fatores, como a melhoria das condições sanitárias, queda da taxa de fecundidade, maior acesso a bens e serviços, melhorias desde o nascer e diversos outros fatores. No Brasil o principal impacto no setor da saúde é de um país que está envelhecendo. A faixa etária  de 60 anos  ou mais é a que mais cresce em termos proporcionais. No Brasil não existe uma idade específica como determinante para o idoso, a respeito da Constituição Federal, o limite de idade é  de 65 anos, mas para Política Nacional do Idoso esse limite é de 60 anos, conforme adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Nosso código penal, menciona a idade de 70 anos. Não existe um consenso em relação a qual é  a “idade do envelhecer”, assim como não há um marco fixo para definir que esta ou aquela seja a idade de se “ficar velho”. O envelhecimento é muito particular...
            Hoje no Brasil existem aproximadamente  10.423 homens e 14.153 mulheres, detendo o nono lugar no ranking mundial em centenários.  Dentre os estados brasileiros com o maior número de centenários destacam-se: São Paulo, com (4.457), seguido da Bahia (2.808), Minas Gerais (2.765), Rio de Janeiro (2.029) e Rio Grande do Sul (1.313).
            No decorrer da história a imagem do idoso é permeada de várias significâncias, que traduzidas no decorrer do tempo nos ajudam a organizar e apresentar a evolução histórica do envelhecimento populacional mundial, conhecendo assim a origem de alguns paradigmas. Não se sabe ao certo o porque de alguns países subdesenvolvidos apresentarem altos níveis de crescimento populacional, mesmo sem ideais  condições de saúde, higiene, educação e alimentação. O Brasil  apresenta hoje a expectativa de vida de 71,8 anos de vida e de acordo com a ONU o Brasil chegará em 2050 a uma expectativa de 81,3 anos de vida.
            Na Bíblia são encontrados vários relatos de respeito e conselhos sobre os cuidados com idosos principalmente em eclesiastes. Relatos  que do ponto de vista legal e político a velhice era valorizada e cuidada preventivamente, com preocupações alimentares, usos de plantas e azeites medicinais. Uma vida longa era vista mais como uma benção do que como uma carga,  e esta benção é vista nos patriarcas bíblicos. Maltratar os pais era um crime que poderia punir com a morte. A velhice é abordada na bíblia como uma fase de debilidades e fragilidades diversas, também aborda o envelhecimento e morte como uma das conseqüências do pecado na terra.
No Egito antigo, viver 110 anos era um prêmio por uma vida considerada equilibrada e virtuosa. Já em Roma antiga, valorizavam muito o idoso, Na sociedade romana os anciões tinham uma posição privilegiada. Quanto mais poderes lhes eram concedidos, mais a ira de novas gerações se voltava contra os idosos, a origem do senado, nos ajuda a entender o valor que o idoso tinha na época.  A Grécia antiga valorizava pouco a velhice a qual a encarava como triste e ridícula. O cristianismo expôs uma visão negativa da velhice. Este tema deixou de interessar aos escritores cristãos que mencionavam a velhice com relação a declínio e pecado.   considerou que o melhor remédio contra a velhice era a loucuraNa 2ª metade do século XV um professor anatomista escreveu um livro sobre as alterações do envelhecimento e os assuntos diversos como moradia, alimentação e condutas sobre idosos. E com André Laurens nasce a geriatria na história. O século XVI se caracterizou por uma violência e um ataque contra a velhice, como conseqüência da adoração e culto da beleza e juventude. Willian Shakespeare.
Até o século XVII na Europa é promovido o verdadeiro culto á juventude, sendo impossível falar da velhice sem comentar sobre a medicina. No século XVIII. A expectativa de vida na Europa era de 30 a 45 anos de idade , e no início desse século, as pessoas normalmente as mais velhas,  que sofriam de AVC (derrame cerebral) eram tratados como endemoniados ou histéricos o que de certa forma mostrava certa repulsa da comunidade, eram concepções de corpos habitados por espíritos, por não existir a dissociação de sintomas ou sinais etiológicos sobre as doenças. Ao passar dos anos o século XVIII marcou também a descoberta de uma medicina anátomo – patológica, onde saúde era um bem e doença um mal. E no fim desse século começam a resgatar o valor da velhice e dos idosos, passando a reconhecê-los como pessoas. O idoso era considerado como patrimônio não encargo.No século XIX, começou a ser encarada como uma doença social. Tendo a necessidade de criação de hospitais que eram sedes de caridade visto que os idosos eram excluídos da sociedade, sendo a institucionalização da velhice em forma de asilos. A prevenção se tornou importante para salvar vidas e no século XIX a população idosa volta a crescer, em 1950 foi fundada a sociedade internacional de geriatria, mas no Brasil somente em 1961 foi fundada a sociedade de geriatria e posteriormente também de gerontologia, tendo primeiros estudos universitários em 1975 na PUC do Rio Grande do Sul, em São Paulo começou em 1975, tendo complementação de atividades em 1979.

No século XX o corpo é associado á máquina e ocorre uma valorização á produtividade que está relacionada aos mais jovens, fazendo com que a sociedade julgue o homem pelo que é capaz de produzir e imputa  a velhice novamente á marginalização associando á  diminuição de produtividade gerando novamente uma inversão de valores.
Esse é o quadro atual da sociedade, em relação a velhice. De certa forma há um culto excessivo a beleza, a cultura do corpo, ao vigor jovem, descaracterizando  a velhice,de rugas e fragilidade(não que isso não ocorra), porém hoje existem idosos que se cuidam, malham, fazem cirurgias e tratamentos rejuvenescedores, que nem de longe permeiam nossa  mente ao declínio. Hoje os idosos são protagonistas de um novo conceito de consumo, de cuidados e de muitas vezes como o maior provedor de renda do lar. O aumento de longevidade no Brasil precisa despertar em cada brasileiro para que medidas biopsicossociais sejam tomadas para enfrentar o desafio de sobrevivência sem incapacidades. Poucos problemas têm merecido tanta atenção e a preocupação do homem em toda sua história como o envelhecimento digno e merecido pela população. Medidas urgentes devem ser tomadas para enfrentar o desafio que todos temos diante de nós: construir uma nova e melhor história da imagem do idoso no século XXI depende de todos nós. Os idosos dos dias de hoje são, muitas vezes, pessoas bastante atuantes na vida da igreja, investir tempo para Deus faz bem a velhice. Estar consciente de enfrentar a velhice e saber que ela é temporária, também faz parte do preparo dos Adventistas do Sétimo Dia. O idoso sabe que após a velhice vem a morte,mas que não é uma sentença de finitude,  após a morte vem à ressurreição! Mas  podemos tirar proveito dela. Chegar a velhice (longevidade) é benção de Deus, mesmo porque a morte é um renascimento para os que tanto aguardam a volta de Jesus. A imagem que a população tem da velhice até hoje permeia o tipo de relação que a vida se impõe. Mediante variantes de cultura e tempo, a sociedade vai permeando e construindo paradigmas, no qual um dia vai enfrentar. 


APRENDENDO A ENVELHECER COM SAÚDE EMOCIONAL


Introdução

•          Um fenômeno – Cada vez maior o número de velhos. Isto está ligado há vários fatores:
•          Queda no número de nascimentos;
•          Aumento na expectativa de vida. – No Brasil o mito de que somos um país jovem pouco a pouco vai sendo derrubado.
•          Avanço tecnológico das ciências médicas e da farmacologia; - e controle da infecção;
•          Adesão a hábitos naturais de vida: Dieta balanceada, exercícios físicos e repouso adequado.

I – Algumas Estatísticas Decorrentes do Fenômeno

•          A expectativa de vida da população mundial hoje é de 66 anos. Em 2.025 será de 73 anos. Segundo a OMS, em mais de 120 países a esperança de vida a vida média da população é de 60 anos.
•          Espera-se que nos 26 países mais desenvolvidos, a OMS calcula que a média de vida deverá ser de 80 anos. Hoje os países que estão no topo da longevidade são: Islândia, Itália, Japão e a Suécia.
•          No Brasil a esperança de vida é de 67 anos, em 2025 a expectativa poderá chegar em 74 anos. Algumas estatísticas da evolução da longevidade no Brasil:
•          1940 – 42 anos;
•          1970 – 60 anos
•          O crescimento populacional entre 1950 > 1980 foi de 109%. Enquanto o crescimento dos habitantes com mais de 60 anos foi de 227%.
•          A população na faixa de zero a 14 anos em 1980 representava 38%. No ano de 2.000 na virada do século caiu para 28%.

II – Quem é o Velho?

•          Segundo a OMS aqueles que entram na terceira idade, isto é 65 anos de idade. Hoje existem pelo menos 2 velhos para cada família. Vamos considerar algo importante nesta transição.Há 20 anos uma pessoa de 65 anos poderia ser vista como mais velha. Hoje é difícil enquadrarmos alguém com esta idade na terceira idade. Não vemos uma pessoa destas com grandes desgastes ou limitações.
•          Dois grupos de trabalho eram estudantes da área de saúde na faixa dos 18 a 21 anos, outro grupo de 51 a 83 anos. Foram perguntadas quais as características que define um velho: No grupo jovem o velho foi definido como uma pessoa chata, triste, deprimido, cansado, doente e solitário.. No grupo mais maturo, o velho foi definido, como alguém muito vivido, com bastante experiência, mais lento, com doenças, com tempo de sobra, tranqüilo, e mais perto da morte.
•          Foi perguntado ao grupo jovem: Nenhum de vocês conhece jovens chatos, tristes e deprimidos, cansados e doentes e solitários? – Ao grupo mais experiente se perguntou se nenhuma delas havia encontrado jovens muito vividos, experientes, lentos, com doenças com tempo de sobra, tranqüilos, e que mesmo jovens estão mais perto da morte.
•          Todas essas pessoas nós encontramos em qualquer etapa da vida. O velho pode ter diversas idades: se foi batalhador, se foi alegre, se foi insatisfeito,, se foi ranzinza. Há algumas vantagens na velhice, se usa a experiência, a vivência, o aprendizado com a dor e o sofrimento. O velho elabora melhor as suas perdas, dribla os preconceitos e sabe melhor utilizar o seu tempo.
Meia-Idade

•          Caminhos da Maturidade: representações do corpo, vivências dos afetos, menopausa, adropausa, queda na reprodução, e desinteresse na sexualidade e consciência da finitude.  (Py e Scharfstein)
•          Envelhecer bem x Envelhecer mal = qual é a nossa construção sociocultural, as nossas contingências genéticas, o cuidado que despendemos na vida em relação ao nosso orgânico. Aqui estamos fazendo uma abordagem de nossa total ambiência.
•          Termo “meia-idade”: meio do caminho? Indivíduo está ou não está inteiro?- Qual é o nosso entusiasmo, o ânimo, a minha produtividade. Nossas condições de vida; emocionais, de saúde ou financeira.


O Corpo

Corpo vivo, construído no seio da cultura, que preconiza o culto ao corpo. O narcisismo, a beleza, o bem malhado.

 Modificações Internas e externas:
  • as bochechas se enrugam e embolsam; 
  • aparecem manchas escuras na pele
  •  a pele perde o tônus e se torna flácida 
  • surgem as verrugas 
  • o nariz alarga-se; os olhos ficam mais úmidos 
  • pelos nascem nas orelhas e nariz 
  • ombros mais arredondados, encurvamento postural, diminuição da estatura.
  •  os ossos endurecem 
  • todos os órgãos internos se atrofiam. Tornam a digestão e o metabolismo menos eficientes. 
  • a insônia aumenta junto com a fadiga durante o dia 
  • a visão piora (catarata) perda do cristalino 
  • deterioram as células da propagação do som 
  • enrijecimento e entupimento das artérias.
Aspectos psicológicos: 
  • Dificuldade de se adaptar aos novos papéis 
  • Falta de motivação e dificuldade de planejar o futuro 
  • Necessidade de trabalhar as perdas orgânicas 
  • Dificuldade de se adaptar as mudanças rápidas, que tem reflexos dramáticos para os velhos. 
  • Diminuição da sexualidade. 
  • Alterações psíquicas que exigem tratamento; 
  • Depressão, hipocondria, somatização, paranóia, suicídios 
  • Baixas, autoimagem e auto-estima.
  • Nível da subjetividade: construção fantasmática (imagem de si). Alguns indivíduos têm dificuldade de aceitar a leve/contínua degeneração. A busca incessante do corpo artificial. Aqui vale tudo, cirurgias, mutilações, lipoaspiração, botoques etc. 
  • Desamparo (impotência radical do recém-nascido)—superar essa insuficiência primordial. Consciência das perdas e ganhos desta vida. (longo trabalho com perdas e ganhos) 
  • Maturidade: luto por um corpo jovem - contradição: desejo de viver muito x permanecer jovem. 
  • Corpo como construção cultural - (Bosi) precisa responder ao apelo social da juventude, oferecendo uma versão “aprimorada” do corpo. (Goffman). Não cair na tentação da moda que valoriza apenas o exterior, e o estético.
•   Importante: reconhecer as transformações do corpo na maturidade
Confrontá-lo com o passado, ressignificá-lo no presente, sonhar com o futuro.
 

Questão de Gênero: A obstinação do modismo, de manter a perfeição a todo o custo, especialmente de quem não construiu o seu interior, a espiritualidade ou religiosidade. Aqui existe uma grande problemática cognitiva. Desejo ter ou ser. Até aonde eu posso (ego real x ego ideal). Quanto maior a lacuna, maior a insatisfação.
  • Feminino: estímulo à reposição hormonal; menopausa: mulher “consumida-consumada-descartada”. 
  • Masculino: disfunção erétil, outra grande preocupação dos homens. Manter ao todo o custo o desempenho de sua sexualidade (Viagra)
            *ilusões da maturidade x construir a própria estética
“A condição de classe, de gênero ou de etnia interferem na maneira como os indivíduos sofrem os efeitos das mudanças históricas.” (Oliveira).


 OS AFETOS

  • Caráter transitório da vida – O valor que o nosso aparelho psíquico dá a vida > valiosa ou < valiosa. 
  • Maturidade: etapa transitória entre vida adulta e velhice. Momento em que se passa pelo auge da intelectualidade e cresce a experiência 
  • Aposentadoria (rito de passagem) – mais uma identidade a ser buscada. Questões de produtividade, perda dos pais, demissões prematuras. Momento de se posicionar a uma nova carreira. Já que não existem muitos empregos. Troca-se o emprego por capacidade produtiva. 
  • Busca de ressignificações - parceiros mais jovens, síndrome do ninho vazio, novo casamento, gravidez tardia podem ser modos de tentar adiar o confronto com a finitude ou reparação do já vivido. Há indivíduos que agora querem começar a viver 
  • Desfrutar esse tempo ainda fértil a partir da consciência do já vivido e da certeza da finitude = tarefa complexa:

Crise da Meia-Idade (Elliot Jacques):

{Base na teoria kleiniana: posição depressiva infantil (1ª relação objetal); - em torno dos 6 meses, bebê percebe sua mãe como objeto total, independente; amor e ódio se fundem em torno desse objeto: surge a ambivalência; percebe seu desamparo e dependência; ego torna-se mais integrado; conflito depressivo caracteriza-se pela luta incessante entre os impulsos destrutivos e os amorosos/reparadores; processo de formação simbólica e sublimação: objeto perdido é assimilado no ego, tornando-se um símbolo e a energia psíquica, após doloroso trabalho de luto, fica liberada para ser investida em novos objetos.}

Meia-idade: (revivência da posição depressiva infantil - aumenta crença na prórpia capacidade de amar e fazer o luto): aceitar ambivalências e tolerância

Resignação Construtiva - é igual a renúncias, mais a capacidade de pensar simbolicamente e sublimar+ variedade de afetos:
Afetar = produzir efeitos (expressão qualitativa da quantidade pulsional)
  • Amor: une (risco: ameaça da perda) 
  • Ódio: separa ((pode ser liberador): individuação)
-Erikson: 7ª idade – Você gerou, agora precisa gerir - tensão entre generatividade (sublimar, novos investimentos libidinais) X estagnação (sucumbir aos ressentimentos). Novos planos, resignificação de vida, nova fase. Gostaria de ter sucesso como eu já tive.
Meia-idade: etapa em que a crescente experiência pode compensar capacidades em declínio.

A FINITUDE
  • Consciência de que todos temos um fim. Ou que um dia deixaremos de existir (mas vai demorar!!! - (atributo e privilégio dos seres humanos) 
  • Maturidade: aproximação da velhice e da morte – recuperar a trajetória de vida e superar a finitude. Queremos fechar a vida com chave de ouro. 
  • Reisignificar os fatos de nossa história. Preciso provar que começo e termino bem.

            “Nossa vida não é uma seqüência de fatos que acontecem, é antes o encadeamento das significações com que os recobrimos.” (Seminerio)

  • Construções imaginárias: fazem-nos imortais (o desejo de imortalidade está implícito em nossas fantasias). origem no inconsciente, nas satisfações vividas nos primórdios da vida) 
  • Maturidade (idéia da morte iluminada pela consciência da finitude) --- -- Momento propício para uma significação diferenciada de nossa vida, superação dos limites e novas produções que nos imortalizam naquilo que deixamos para a humanidade.  Não é um momento de harmonia, mas de fazer, construir, criar, num mundo modernizado, cenário da barbárie da vida contemporânea.

“A beleza dos jovens está na sua força, à glória dos idosos, nos seus cabelos brancos.” – Prov.20:29.

"Não me rejeiteis na minha velhice,não me abandones quando se vão as minhas forças.” – Salm. 71:9.

"Mesmo na velhice darão frutos; permanecerão viçosos e verdejantes.” – Sal. 92:14

"Mesmo na velhice; quando tiverem cabelos brancos, sou eu aquele que vos sustentará. Isa. 46:4.



Autor da Pesquisa: Prof. Joel Pola – Psicólogo e Clínico
Tels. 11- 9982-0490 – 2591-0216
E-mail – j.pola@uol.com.br

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