quinta-feira, 29 de março de 2012

SONHOS INTERPRETAÇÕES - RÁDIO NOVO TEMPO

Rádio Novo Tempo:  Programa Navegando, com Veríssimo, Rose no dia 26/03/2012. – às 19:30 hs. Com a participação do Apologista teólogo Prof. Leandro Quadros -  
Sonhos: Existe significado para eles?  
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RESUMO PSICALANÍTICO

O SIGNIFICADO DOS SONHOS -
       
 1-INTRODUÇÃO.

“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud em sua obra-prima A Interpretação dos Sonhos (Die Traumdeutung). O livro levou dois anos (1898 e 1899) para ser escrito e nele Freud edificou os principais fundamentos da teoria psicanalítica, constituindo como o ponto de apoio para todo o desenvolvimento.Psíquicos simultaneamente; por isso não possui um só sentido latente, mas uma rede de significações emocionais, o sonho é um momento diagnóstico por excelência, identifica o sujeito.
Antiguidade -Eles aceitavam como axiomático que os sonhos estavam relacionados com o mundo dos seres sobre-humanos nos quais acreditavam, e que constituíam revelações de deuses e demônios. Não havia dúvida, além disso, de que, para aquele que sonhava, os sonhos tinham uma finalidade importante, que era, via de regra predizer o futuro.A posição adotada perante os sonhos por filósofos isolados na Antiguidade dependia, naturalmente, até certo ponto, da atitude destes em relação à adivinhação em geral.

Nas duas obras de Aristóteles que versam sobre os sonhos, eles já se tornaram objeto de estudo psicológico. Informam-nos as referidas obras que os sonhos não são enviados pelos deuses e não são de natureza divina, mas que são “demoníacos”, visto que a natureza é “demoníaca”, e não divina. Os sonhos, em outras palavras, não decorrem de manifestações sobrenaturais, mas seguem as leis do espírito humano, embora este, é verdade, seja afim do divino. Definem-se os sonhos como a atividade mental de quem dorme, na medida em que esteja adormecido.

Aristóteles estava ciente de algumas características da vida onírica. Sabia, por exemplo, que os sonhos dão uma construção ampliada aos pequenos estímulos que surgem durante o sono. “Os homens pensam estar caminhando no meio do fogo e sentem um calor enorme, quando há apenas um pequeno aquecimento em certas partes.” E dessa circunstância infere ele a conclusão de que os sonhos podem muito bem revelar a um médico os primeiros sinais de alguma alteração corporal que não tenha sido observada na vigília.
Platão -A expressão corriqueira ‘eu nem sonharia em fazer tal coisa’ tem um significado duplamente correto, quando se refere a algo que não pode encontrar guarida em nosso coração nem em nossa mente. Platão, ao contrário, considerava que os melhores homens são aqueles que apenas sonham com o que os outros fazem em sua vida de vigília.

Robert descreve os sonhos como “um processo somático de excreção do qual nos tornamos cônscios em nossa reação mental a ele”. Os sonhos são excreções de pensamentos que foram sufocados na origem. Higiene ou polução noturna.

Existem muitos tipos diferentes de sonhos. As pessoas vêm estudando-os, tentando entendê-los e dividindo-os em grupos.

Sonhos criativos: Pessoas que tem sonhos criativos representam seus sonhos através da pintura ou mesmo através de livros.

Sonhos lúcidos: A pessoa está sonhando, sabe que está sonhando e conseguem controlar o que está acontecendo como se estivessem direcionando um filme. Essas pessoas conseguem se encontrar com outras pessoas pelos seus sonhos e depois quando acordam, descobrem que a pessoa com quem sonharam tiveram o mesmo sonho com as mesmas pessoas e as mesmas coisas.

Pesadelos: Sonhar com monstros, fantasmas significa que você está com medo de alguma coisa na vida real e que precisa ser confrontado. Se você sonhou que você está preso em algum lugar, isso significa que você está preso a uma situação na vida real.

Sonhos previsíveis: São sonhos em que a pessoa que está sonhando alega que certos eventos irá acontecer no futuro.

Sonhos repetitivos: Se você sonha com a mesma coisa mais de uma vez, isso quer dizer que alguma coisa está te preocupando na vida real.

Sonhos sensuais: Todos nós sonhamos sobre sexualidade, especialmente quando estamos passando pela fase da puberdade. É perfeitamente natural sonharmos com esse tipo de coisa em qualquer.

Existem quatro tipos de fontes de sonho:
1-Excitações sensoriais externas (objetivas): todo ruído indistintamente percebido provoca imagens oníricas correspondentes (ex.: trovoada, cantar de um galo, etc.…); sensações de frio, calor, etc. (ex.: vontade de urinar, partes do corpo descobertas, etc..).
2-Excitações sensoriais internas (subjetivas) dos órgãos dos sentidos: excitações subjetivas da retina, alucinações hipnagógicas ou fenômenos visuais imaginativos.
3-Estímulos somáticos internos (orgânicos): distúrbios dos órgãos internos (ex.: causa sonhos de angústia)
4-Fontes psíquicas de estimulação: material importante para chegar ao inconsciente, necessário para o tratamento psicanalítico.


Existem diversas causas para o nosso esquecimento dos sonhos. Geralmente esquecemos o que ocorre somente uma vez. Temos dificuldade em se lembrar de o que é desordenado e confuso. Não damos importância significativa aos nossos sonhos.
Os sonhos de angústia são abordados como uma subespécie particular dos sonhos de conteúdo aflitivo. A angústia neurótica se origina da vida sexual e corresponde à libido que se desviou de sua finalidade e não encontrou aplicação. Os sonhos de angústia são sonhos de conteúdo sexual cuja respectiva libido se transformou em angústia. É também instrutivo considerar a relação desses sonhos com os sonhos de angústia. Um desejo recalcado encontrou um meio de fugir à censura — e à distorção que a censura implica. O resultado invariável disso é que se experimentam sentimentos dolorosos no sonho. Da mesma forma, os sonhos de angústia só ocorrem quando a censura é total ou parcialmente subjugada; e, por outro lado, a subjugação da censura é facilitada nos casos em que a angústia já foi produzida como uma sensação imediata decorrente de fontes somáticas. Assim, podemos ver claramente a finalidade para a qual a censura exerce sua função e promove a distorção dos sonhos: ela o faz para impedir a produção de angústia ou de outras formas de afeto aflitivo.
A “angústia de prestar exames” dos neuróticos deve sua intensificação a esses mesmos medos infantis. Os sonhos com o Vestibular geralmente ocorrem nas pessoas que tem sido aprovadas, e nunca nas que foram reprovadas nele.

Recorrente: - Quando o sonho é do tipo que se chama “recorrente”, é quando o sujeito teve um sonho pela primeira vez na infância e depois ele reaparece constantemente, de tempos em tempos, durante o sono adulto.

Sonhos de Morte: - Os sonhos típicos sobre a morte de parentes queridos encontramos realizada a situação extremamente incomum de um pensamento onírico formado por um desejo recalcado (da morte), que foge inteiramente à censura e passa para o sonho sem modificação.
Egocentrismo - Todo sonho versa sobre o próprio sonhador. Os sonhos são inteiramente egoístas. Sempre que nosso próprio ego não aparece no conteúdo do sonho, mas somente alguma pessoa estranha, podemos presumir com segurança que nosso próprio ego está oculto, por identificação, por trás dessa outra pessoa; posso inserir nosso ego no contexto. Em outras ocasiões, quando nosso ego de fato aparece no sonho, a situação em que isso ocorre pode ensinar-nos que alguma outra pessoa jaz oculta, por identificação, por trás de nosso ego. Uma conclusão no sonho representa uma conclusão nos pensamentos oníricos.

A - RELATO DE FREUD
Os sonhos das crianças pequenas são frequentemente pura realização de desejos e são, nesse caso, muito desinteressantes se comparados com os sonhos dos adultos. Não levantam problemas para serem solucionados, mas, por outro lado, são de inestimável importância para provar que, em sua natureza essencial, os sonhos representam realizações de desejos. É possível que os sonhos aflitivos e os sonhos de angústia nos adultos, uma vez interpretados, revelem-se como realizações de desejos.

 Sonho:  Uma criança com menos de quatro anos de idade contou ter sonhado que vira um prato enorme com um grande pedaço de carne assada e legumes. De repente, toda a carne foi comida — inteira e sem ser destrinchada. Ela não viu a pessoa que a comeu.
Interpretação: - Quem teria sido a pessoa desconhecida cujo suntuoso banquete de carne constitui o tema do sonho do menininho? Suas experiências durante o dia do sonho devem esclarecer-nos sobre o assunto. Por ordem médica, ele fora submetido a uma dieta de leite nos últimos dias. Na noite do dia do sonho ele se mostrara travesso e, como castigo, fora mandado para a cama sem jantar. Ele já havia passado por essa cura pela fome numa ocasião anterior e se portara com muita bravura. Sabia que não conseguiria nada, mas não se permitia demonstrar, nem mesmo por uma única palavra, que estava com fome. A educação já começara a surtir efeito nele: encontrou expressão em seu sonho, que exibe o início da distorção onírica. Interpretação: Não há nenhuma dúvida de que a pessoa cujos desejos eram visados nessa generosa refeição — de carne, ainda por cima — era ele próprio. Mas, como sabia que isso não lhe era permitido, ele não se aventurou a sentar-se pessoalmente para desfrutar a refeição, como fazem as crianças famintas nos sonhos. A pessoa que se serviu da refeição permaneceu no anonimato.

B-O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DOS SONHOS E AS ORIGENS DOS NOMES.

Vamos fazer uma referência aos símbolos, agora Freud adverte: o significado dos símbolos deve ser somente utilizado como um método auxiliar. As associações do paciente com o elemento onírico (sonho) determina a preferência em todos os casos, a interpretação correta só pode ser alcançada, em cada ocasião. Os elementos podem ser modificados inclusive demonstrando ser o oposto, devemos sempre investigar o contexto.
Muitas vezes, um símbolo tem de ser interpretado em seu sentido próprio, e não simbolicamente, ao passo que, em outras ocasiões, o sonhador pode tirar de suas lembranças particulares o poder de empregar como símbolos sexuais toda sorte de coisas que não são comumente empregadas como tal.

c -O SIGNIFICADO SIMBÓLICO DOS SONHOS.
- Sentimento convicto de que já se esteve em um lugar antes: esses lugares são, invariavelmente, os órgãos genitais da mãe de quem sonha.
- Atravessar espaços estreitos ou estar na água: baseiam-se em fantasias da vida intrauterina, da existência no ventre e do ato do nascimento.
- Morte de um ente querido: desejo de que a pessoa em questão venha a morrer.
- Sonhos de estar despido: sonhos de exibição.
- Reis, príncipe, princesa ou personalidades: pais do sonhador.
- Chama (fogo), gravata, meninos pequenos, cobra, peixe, caracol, rato, aviões, foguetes, número 3, edificios, torres, igrejas, monólito, mirantes, armas (facas, espadas, etc..), objetos que expelem líquidos (torneiras, fontes, etc..), lâmpadas que pendem do teto, batom extensível, telescópios, antenas de automóvel, lápis, canetas, lixas de unhas, foguetes, balões, papagaios, pássaros, cogumelo, trevo de quatro folhas: símbolo sexual masculino, pênis.
- Estojos, caixas, estufas, cavernas, paisagens, bosques, barcos, habitações, máquinas, aparelhos, chapéu ou agasalho feminino, peles, moitas, grupo de árvores, barba, portas, “O” zero, “doce”, “pote de mel”, “gatinha”, caracóis, gato, joias, boca, ferradura, coroa, covas, vasos, garrafas, bolsos, sapatos, chinelos, lareira: corpo feminino, ou seu órgão sexual.
- Várias habitações: harém ou lugar de prostituição.
- Duas habitações: teoria infantil da cloaca (quando o menino supõe que o órgão sexual feminino se confunde com o ânus).
- Subindo ou descendo uma escada: ato sexual
- Paredes e muros lisos pelos quais subimos: lembrança infantil de subir pelas pernas dos pais.
- Muros lisos: homens.
- Mesas, tábuas e madeira: mulheres.
- Cama e mesa; ato de comer alimentos: matrimonio.
- Brincar com crianças pequenas, dar-lhes golpes, acariciá-las, etc.…: masturbação.
- Calvície, cortar cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação: complexo de castração.
- Lagartixa, quando um dos símbolos penianos aparecem mutilados: medo preventivo da castração.
- Animais pequenos e parasitas: irmãozinhos pequenos que vieram perturbar com o seu nascimento.
- Número 9, Corpo invadido por parasitas, tumor, canguru, gambá, vaca, hipopótamo, camelo: gravidez.
- O caminho direito: deve seguir
- O caminho esquerdo, urinar sobre uma fogueira, fantasia da falta de lactação: homossexualidade, incesto.
- Animais selvagens: instintos ou paixões perversas.
- Loteria (um estado de felicidade de curta duração): casamento
- Água: símbolo de gente, multidões.
- Serpentes enroscada: grandes fezes.
- Órgãos sexuais: o próprio sonhador com uma visão pejorativa.
- Armários, fogões, quartos: útero.
- Maçãs, peras, frutas, irmãos: nádegas.
- Irmãs: seios.
- Roupas íntimas e roupas brancas, flores: símbolos femininos.
- Abacaxi: seio negado.
- Banana: natureza fálica.
- Planos, mapas, gráficos, diagramas: corpo humano com os órgãos genitais.
- Bagagem: encargo de família.
- Tocar piano, escorregar, desfolhar um galho, número 5: masturbação.
- Dançar, cavalgar, subir ou descer escadas, portas estreitas, escadas altas e íngremes: relações sexuais.
- Ser atropelado, experiências violentas: ameaça com armas.
- Ser machucado, surrado, torturado, baleado, crucificado, assassinado: sadomasoquismo.
- Ouro, ovos: fezes.
- Dinheiro: amor ou pagamento para fazer sexo.
- Aranhas: mãe fálica.
- Nadar: na infância urinava na cama.
- Lugar que acredita já ter estado ali: órgãos sexuais da mãe do sonhador.
- Palidez, viagem, emudecimento, esconder-se, vazio, escuridão, feiura, desordem, sujeira, excrementos secos de animais: morte.
- Viagem: lua-de-mel.
- Viagem ao desconhecido: processo de psicanálise.
- Desejo de matar ou de suicídio: cuidado um sentimento forte de matar ou morrer.
- Placa de veículos: ano do evento.
- Roupas e uniformes: nudez.
- Ônibus: conduz outras pessoas da família ao analista.
- Mártir, santos, demônios: sua neurose.
- Olhar no espelho: olhar para si mesmos.
(Pesquisa Elaborada porJoel Pola -Psicólogo Clinico - São Paulo 26/03/12)

   
Rádio Novo Tempo: Programa Navegando: – Dia 26/03/2012. – 19: 30 h. -  O tema: Sonhos: Existe significado para eles? 

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segunda-feira, 26 de março de 2012

USOS E COSTUMES: DOUSTRINAS DE DEUS OU DOS HOMENS?


Thiago Lima Barros

A questão do comportamento cristão sofre um debate sem paralelo nos últimos duzentos e cinquenta anos. Nesse período, surgiram interpretações sem precedentes anteriores, que terminaram por se tornar majoritárias, ao mesmo tempo em que buscavam justificativas para seus entendimentos ao longo das Sagradas Escrituras. Refiro-me às chamadas doutrinas de usos e costumes, muito em voga principalmente no meio pentecostal histórico, do qual constituem um traço cultural bastante arraigado.

A cerveja do pai da reforma.

Até meados do século XVIII, questões como vestuário, uso do álcool, acesso à informação e à arte seculares, dentre outras, eram desconhecidas da igreja cristã. Mesmo porque o padrão de indumentária europeu era uniforme, as restrições à leitura se restringiam ao Index romanista.

Lutero fabricava sua própria cerveja (na verdade não ele, mas sua esposa Catarina), e Calvino recebia, como parte de seu salário anual em Genebra, sete tonéis de vinho. A igreja era doutrinada a usufruir de tudo com moderação, como produto da Graça de Deus, e não se deixar dominar por nenhuma delas.

Calvino é marca de cerveja européia.

Todavia, o início do movimento metodista nas Ilhas Britânicas veio acompanhado de uma reversão de tendência quanto a esses assuntos, a começar pela questão das bebidas alcoólicas. À época, com o advento da Revolução Industrial, as cidades não oferecem infraestrutura suficiente para atender às demandas da população que aflui do campo para trabalhar na indústria nascente, o que inclui a oferta de água potável. Bebidas destiladas e fermentadas passam a substituir a água. Porém, o ambiente de pobreza extrema em que viviam os operários propicia os excessosno uso de bebidas. A embriaguez se torna uma constante, e se transforma num problema social.

John Wesley foi o primeiro a se insurgir contra os excessos do álcool entre os crentes, e foi o primeiro a articular um movimento de proibição do seu uso. Em seus sermões, Wesley reprovava o uso não-medicinal de bebidas destiladas, como conhaque e uísque, e dizia que muitos destiladores que vendiam seus produtos indiscriminadamente não eram nada mais do que “envenenadores e assassinos amaldiçoados por Deus”. Porém, os Artigos de Religião de Wesley, adotados pela Igreja Metodista Episcopal nos Estados Unidos em 1784, admitiam em seu Artigo XVIII que o vinho é para ser usado na Ceia do Senhor, e preceituavam, no Artigo XIX, que ele deveria ser ministrado a todas as pessoas, e não apenas aos clérigos. Da mesma forma, as recomendações para pregadores metodistas indicam que eles deveriam escolher água como bebida comum e usar o vinho apenas como medicamento ou na Ceia.

 O Movimento de Temperança


J. Wesley, o precursor do movimento anti-alcool.

  No entanto, o pensamento metodista acerca do assunto era compartilhado por poucas pessoas, até a publicação de um folheto de autoria do médico Benjamin Rush, um dos signatários da Declaração de Independência norte-americana, que deblaterou contra o uso de “espíritos ardentes” (álcool destilado), introduziu a noção de vício e prescreveu a abstinência como única cura.

Apesar da adesão de alguns pregadores proeminentes, o movimento perdeu força durante a Guerra de Secessão, para mais tarde ressurgir por meio da União Feminina pela Temperança Cristã, e foi tão bem sucedido na realização dos seus objetivos que Catherine Booth, esposa do fundador do Exército da Salvação William Booth, observou, em 1879, que quase todos os ministros cristãos estadunidenses haviam se tornado abstêmios. O movimento, liderado por feministas conservadoras como Frances Willard, conseguiu a aprovação de leis anti-álcool em vários estados, e atingiu o seu zênite político em 1919, com a promulgação da Décima Oitava Emenda à Constituição dos Estados Unidos (Lei Seca), que estabeleceu a proibição da venda e consumo de álcool no país inteiro, revogada mais tarde, em 1933, pela Vigésima Primeira Emenda.

Francis Willard ajudou a "secar" os E.U.A.

Inicialmente se opondo apenas ao álcool destilado, a mensagem do movimento de temperança foi mais tarde alterada para defender sua eliminação total, especialmente na Ceia do Senhor. Tal posicionamento foi em grande medida influenciado pelo Segundo Grande Despertar, que enfatizava a santidade pessoal e o perfeccionismo na práxis cristã.

Os efeitos jurídicos e sociais resultantes do movimento, como visto, atingiram seu pico no início do século 20 e começaram a declinar logo depois. Os efeitos sobre a prática da igreja foram principalmente um fenômeno do protestantismo americano. O Pentecostalismo e as Restrições Consuetudinárias – Porém, no ambiente pentecostal, que sofreu, como (e do) Movimento de Temperança um influxo filosófico bastante forte do Movimento de Santidade, (o qual, por sua vez, é resultado direto do Segundo Grande Despertar), o proibicionismo, longe de arrefecer, foi adotado como cláusula pétrea. Afinal, ainda não havia bases teológicas de fundo mais intelectual: tudo era mais voltado ao experiencialismo da glossolalia e da cura divina, o que enfatizava ainda mais a tese de separação artificial do mundo e de suas coisas.

Mais tarde, porém, mesmo com o aprimoramento teológico dos ministros pentecostais, as mudanças de postura foram poucas, e meramente pontuais, fora a tolerância com abusos na rigidez das regras, mormente em locais menos desenvolvidos economicamente. Logo, para além da proibição da ingestão de álcool, surgiriam outras questões nas quais a resposta era uma só: proibido.

Ademais, tanto o pentecostalismo como o neo-pentecostalismo, juntamente com metodistas e grupos afiliados ou decorrentes destes, são os únicos grupos que elevaram tais restrições ao status de doutrina; se não na teoria, pelo menos na prática diária. Os demais ramos da cristandade protestante rechaçam esse tipo de associação, muito embora tambem tenham cometido esse tipo de excesso ao longo da história. Basta ver, nesse ponto, o que sofreram dois músicos cristãos: o alemão Johann Sebastian Bach, que foi obrigado a conter sua criatividade diante do estilo simplório de música imposto pela corte do príncipe calvinista Leopoldo de Anhalt-Köthen; e o brasileiro Luiz de Carvalho, que era anatematizado nos meios batistas por tocar... Violão!

O principe os púlpitos - Spurgeon era fumador de charutos e virou marca. Um outro momento cultural.


Usos e costumes no pentecostalismo brasileiro 


Otto Nelson

 É com os pentecostais, mormente da Assembleia de Deus, que o proibicionismo do Movimento de Temperança deita suas raízes no Brasil. De início, essa influência não se dá de forma institucional: o debate sobre questões relativas à inserção do pentecostal no mundo, ao contrario do que alguns líderes querem fazer parecer, era intenso e muitas vezes descambava para o rompimento pessoal entre os pastores divergentes. Nessa fase (de 1930 a 1975), o tratamento dessas questões era eminentemente personalista: cada pastor decide acerca das regras comportamentais a serem seguidas pelo rebanho, e muitos o fazem de forma radical.

Foi o caso do presbitério da AD de São Cristóvão (fundada por Gunnar Vingren em 1924), o qual, n’O Mensageiro da Paz da primeira quinzena de julho de 1946, em decisão unilateral datada do dia 4 de junho, sob a presidência do missionário sueco Otto Nelson, estabeleceu regramentos draconianos sobre o vestuário e cortes de cabelo femininos.
Samuel Nyströn

A dureza da Resolução de São Cristóvão, como passou a ser conhecida, aliada à evidente misoginia que a perpassava, não deixaram de ser notadas na 8ª Reunião da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, realizada em Recife em fins de outubro do mesmo ano. Os convencionais exigiram a retratação da congregação carioca. Quase no apagar das luzes da rodada de reuniões, o Presidente da CGADB, o tambem missionário sueco Samuel Nyströn, faz publicar um texto intitulado “Dando lugar à operação do espírito”, no qual rechaça o zelo jacobino da Resolução. Não por acaso, Nyströn abre o artigo com a citação do capítulo 4, versículo 6, do livro de Zacarias: “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito diz o Senhor dos Exércitos”.

Com a refutação, veio a retratação da AD de São Cristóvão, em janeiro de 1947, e um silêncio de 16 anos acerca de questões consuetudinárias. Elas só voltam à baila em 1962, e de forma pontual. Essa tendência é revertida em 1975, com a publicação de uma resolução na 22ª reunião da CGADB, realizada em Santo André (SP), contendo oito restrições comportamentais, de observância obrigatória para os membros das AD’s. Eis a íntegra da mesma:

E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separai-vos dos povos, para serdes meus (Lv 20.26).

A Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, reunida na cidade de Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios estabelecidos como doutrinas na Palavra de Deus - a Bíblia Sagrada - e conservados como costumes desde o início desta obra no Brasil. Imbuída sempre dos mais altos propósitos, ela, a Convenção Geral, deliberou pela votação unânime dos delegados das igrejas da mesma fé e ordem em nosso país, que as mesmas igrejas se abstenham do seguinte:

1. Uso de cabelos crescidos, pelos membros do sexo masculino;

2. Uso de traje masculino, por parte dos membros ou congregados, do sexo feminino;

3. Uso de pinturas nos olhos, unhas e outros órgãos da face;

4. Corte de cabelos, por parte das irmãs (membros ou congregados);

5. Sobrancelhas alteradas;

6. Uso de mini-saias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã;

7. Uso de aparelho de televisão – convindo abster-se, tendo em vista a má qualidade da maioria dos seus programas; abstenção essa que justifica, inclusive, por conduzir a eventuais problemas de saúde;

 8. Uso de bebidas alcoólicas.

Geziel Gomes

 Um detalhe interessante: a resolução acima foi lida na Convenção pelo pastor Geziel Nunes Gomes, a pedido do presidente da CGADB à época, pr. Túlio Barros Ferreira, coincidentemente (ou não) responsável pela AD de São Cristóvão. Ambos se desfiliaram da AD anos mais tarde, aderindo às doutrinas heréticas da Confissão Positiva e do G-12
Daí por diante, a tendência é de recrudescimento dessa postura até 1999, quando, por ocasião do 5º Encontro de Líderes da Assembleia de Deus (ELAD), ocorre uma espécie de aggiornamentoassembleiano: sem abrir mão do positivismo exacerbado de Santo André, tenta-se contextualizar as exigências mais como recomendação do que como decálogo (ou octólogo) denominacional. Mas mesmo esse documento padece de um certo “complexo de Gabriela”, numa indisfarçável demonstração de soberba denominacional:
Quando afirmamos que temos as nossas tradições, não estamos com isso dizendo que os nossos usos e costumes tenham a mesma autoridade da Palavra de Deus, mas que são bons costumes que devem ser respeitados por questão de identidade de nossa igreja. Temos quase 90 anos, somos um povo que tem história, identidade definida, e acima de tudo, nossos costumes sãos saudáveis. Deus nos trouxe até aqui da maneira que nós somos e assim, cremos, que sem dúvida alguma ele nos levará até ao fim.
 Conclusão
Nas faculdades de Direito, estudamos que o costume é um dos vários meios de integração do ordenamento jurídico, utilizados em virtude do caráter genérico dos textos legais, que não raro apresentam lacunas. Ele deriva da prática reiterada de dado comportamento, devido à convicção sobre sua obrigatoriedade (a qual, se violada, acarretaria alguma sanção), e seu uso deve ser uniforme, constante, público e geral.

 No entanto, a história dos avivamentos pelos quais a Igreja Cristã passou a partir do século XVIII, malgrado seus benefícios espirituais, teológicos, éticos e sociais, trouxe um grave efeito colateral para essa mesma Igreja: uma prática de usos e costumes nascida não da convicção do corpo iluminado pelo Espírito Santo, como deveria ser, mas do tacão dos líderes. Embora siga uma linha pentecostal clássica, seja neto de assembleianos por parte de pai e creia que a conduta cristã deva ser diferenciada da que é corrente no mundo, creio que essa jurisprudência deve ser escrita nas tábuas do coração, e não imposta de maneira bonapartista pela liderança, por mais bem-intencionada que esta seja.

Nenhum cristão realmente nascido de novo em Cristo, em sua saníssima consciência, vai defender a libertinagem, vestimentas indecorosas, embriaguez, enfim, uma postura de evidente mundanismo. Precisamos, de fato, ser santos como o Nosso Senhor o é. O problema é que, no afã de vivenciar essa santidade, houve um retorno inconsciente ao legalismo mosaico e aos seus rudimentos fracos, e o bebê foi jogado fora junto com a água do banho. Ou seja, a fruição dos bens dados pelo Senhor ao ser humano (quem lê, entenda) foi relegada, em alguns casos, a uma condição de conduta pecaminosa, mesmo que não ofenda as Escrituras em momento algum.

  Cuidados com o corpo e o vestuário são pecado? Jamais! Antes, evidenciam o cuidado que temos com o templo do Espírito Santo: nosso corpo. Sem extravagâncias, mas com elegância. E o vinho, não alegra o coração do homem (Sl. 104:15)? E, da mesma forma, a embriaguez é condenada (Pv. 20:1). Sem contar que o mau uso que se faz dos meios de comunicação não os torna invenções de Satanás. Afinal, se a televisão não podia sequer entrar nos lares dos crentes, como os herdeiros dos que contra ela verberavam hoje dela se valem? Enfim, os lineamentos para o usufruto das dádivas de Deus são explícitos na Bíblia: basta segui-los, pois todas as coisas nos são lícitas, mas não nos deixamos dominar por nenhuma delas (I Co. 6:12). Encerro rememorando o rasgo de sensatez que o Nosso Deus e Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo bafejou no coração do pastor Samuel Nyströn, por ocasião do debate acerca da Resolução de São Cristóvão, no gracioso libelo “Dando lugar à operação do espírito”, orando ardentemente para que todos os cristãos, lideres principalmente, façam dessas palavras sua prática diuturna de vida:
Em qualquer tempo, lugar ou circunstância, devemos lembrar-nos que não se consegue fazer a obra do Senhor por força nem por meios violentos, resoluções ou imposições, mas a obra do Senhor se realiza pela intervenção criativa de Deus e pela lei do crescimento externo da obra do Senhor, mas igualmente quando se tratar do crescimento interno desta, tanto individual como coletivamente
Mesmo durante a Dispensação da Lei, a Lei não conseguiu outra coisa senão descobrir e pôr o pecado em atividade, tendo como resultado a morte (...) enquanto a fé não tinha vindo, a Lei teve um alvo como pedagogo: conduzir homens a Cristo. Mas, tendo vindo a fé, não estamos mais debaixo do pedagogo (a Lei), e nem devemos fazer ressuscitar leis ou inventar outras leis para que não fiquemos no lugar dos gálatas, que foram chamados insensatos e a respeito dos quais Paulo temia que todo o seu trabalho se tornasse vão (...) Cristo veio com a graça e, então, a Dispensação da Lei se encerrou. Em lugar do mandamento prévio. que foi ab-rogado por sua fraqueza e inutilidade, pois 'a Lei nada fez perfeito', foi introduzida uma melhor esperança, pela qual nos chegamos a Deus: Cristo, que é nosso Sacerdote, segundo o poder de uma vida indissolúvel (...) Portanto, o que realmente tem valor para nós é ‘a fé que opera por amor’, por isso não nos justificamos pela Lei ou leis, para não sermos decaídos da graça e separados de Cristo (Gl 5.6

As ordenanças para manifestar humildade e servidade com o corpo servem para satisfazer a carne, o erro, e elas com facilidade arranjam os que se julgam mais santos do que outros, e isto resulta em inchação vã e cria espírito de fariseu, que é o maior impedimento para as bênçãos de Deus.

Há muitos países e muitas formas de se trajar neste mundo, bem como muitos climas diferentes, e tudo isto deve ser considerado, mas como a Palavra de Deus diz: ‘com modéstia e sobriedade’. O que a Escritura ensina em relação a este assunto é que as mulheres devem ser castas e tementes a Deus, tanto as que são casadas como as moças (...) lembremo-nos também que há muitas outras coisas que são igualmente perigosas para a obra do Senhor, que só pelo Espírito Santo poderão ser removidas, como o amor ao dinheiro (...) o homem ostentado justiça própria, criticando tudo e todos, é um indivíduo perigoso para o avanço da unidade da obra do Senhor.



Revista Genizah – Autor: Thiago Lima Barros


  * Fontes:

 •Christian viewsonalcohol
 • Woman's Christian Temperance Union
• FONSECA, André Dioney. São Cristóvão e Santo André: os debates sobre a normatização dos usos e costumes nas convenções gerais das Assembléias de Deus no Brasil (1930-1980) Juiz de Fora: Sacrilegens (Revista dos Alunos do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião - UFJF), v. 6, nº 1, p.41-59. Tb. Disponível em http://www.ufjf.br/sacrilegens/files/2010


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