Neste post, reuni algumas dúvidas
sobre os insistentes ataques de birra e manifestações de agressividade das
crianças.
Dúvidas como a do Emerson, cujo filho de 1 ano e 5 meses tem
reagido de maneira agressiva quando contrariado, batendo em si mesmo e nos
outros.
A Edinalma está muito preocupada com o sobrinho de 3 anos,
pois ele tem batido nos colegas da escola e tem dúvidas se devemos incentivar
as crianças a revidar ou não uma agressão do amiguinho.
Já a Katia, se diz “desesperada” com as atitudes agressivas
do filho de 4 anos e tem se perguntado: “Onde foi que eu errei?”
A Estela contou que sua filha de 2 anos bate, grita, se joga
no chão e esperneia. Disse ainda que como mãe, sente-se frustrada, pois acha
que não está sabendo educar a filha.
Vou pegar carona nas dúvidas e questionamentos destes pais,
para pensar sobre alguns aspectos importantes.
No dia-a-dia do consultório, observo com frequência, pais
tendo muita dificuldade de colocar limites para os filhos. Talvez por insegurança,
ou por medo de serem duros demais, ou frustrá-los em demasia. Mas venho
constatado que cada vez mais, os pais vem perdendo espaço na hierarquia
familiar e acabam se tornando reféns da própria dificuldade de se colocarem no
lugar de adulto.
A consequência disso? Os famosos “tiraninhos” com os quais
esbarramos diariamente no supermercado e no shopping, dando chiliques e fazendo
exigências. Outro dia, presenciei uma cena em um café, onde a mãe estava
ficando quase maluca, tentando atender aos insaciáveis desejos de sua filha de
aproximadamente 3 anos. Foram várias idas e vindas do garçom, que estava
visivelmente “tonto” com tantas reivindicações da menina. Ela dizia que queria
bolo, mas quando o bolo chegava, desistia do bolo e pedia pão-de-queijo, e
assim a coisa foi se estendendo, até que a mãe, meio sem jeito, olhou para o
garçom e disse: “Quando é comida, a gente não pode negar, né?”. Fiquei
ali, observando a mãe, identificando quanto ela estava se sentindo insegura e
receosa em dar um basta na situação. Parecia que ela precisava da comprovação
do garçom de que realmente estava fazendo o certo.
Filho precisa que o adulto dê a referência do que ele
pode ou não fazer. São os pais que estabelecem as regras! E, às vezes,
preocupados em não tolir os movimentos de autonomia dos nossos filhos os pais
se escravizam nesta relação e focam tentando aos incessantes quereres! Não
há crescimento se não há frustração. Não dá para querer poupar o filho de
lidar com os limites impostos pela vida. É desde pequeno que ele aprende a
lidar com a falta. Faz parte escolher entre o bolo e o pão de queijo. E essa é
apenas uma das muitas escolhas com as quais nossos filhos vão se deparar
durante a vida. Há situações nas quais vamos ter que escolher por eles.
Nem que seja para dizer: “Bolo é o que temos para hoje”. O pai e a mãe precisam
dar contorno aos desejos dos filhos. Estabelecer o que é ou não possível
naquele momento.
Mas, então você pode me questionar: “Ah, mas se eu não faço
o que ele quer, ele dá chilique!”. Pois é, eu vejo os pais cada vez mais
fazendo o que os filhos querem para não terem que lidar com a cara feia.
Aguentar o chilique do filho requer tolerância! Lá em casa, eu tenho o
“canto do calminho”. E diariamente, no consultório, oriento os pais a proporcionarem
este espaço de contenção para os filhos. O “calminho” não é um “cantinho da
disciplina” e nem um “lugar para pensar”. Sabe aquele momento em que você
precisa contar até 10? Ou até 20, até a vontade de explodir passar? O
“calminho” serve para isso. É um lugar para se acalmar, se organizar,
autocentrar-se! Vale dizer pro filho: “você não está conseguindo ouvir a
mamãe”, ou: “eu não consigo entender quando você grita”, “bater não resolve ou
não me ajuda a te entender”, etc.
Muitas vezes, a criança precisa que o adulto a ajude a
traduzir o que ela está sentindo. Dá certo, por exemplo, legitimar para a
criança o sentimento dela diante da frustração. Eu diria para a mãe do café:
“Não tema frustar sua filha! Ela não vai deixar de te amar por causa disso. E,
se ela quiser te bater, você não vai deixar”. A paciência, o espaço para o
diálogo, a conversa olho no olho, ainda são as ferramentas mais eficazes na
difícil tarefa de educar! Outro dia, uma mãe me disse: “Eu cheguei em casa
super estressada por causa do trabalho e meu filho me disse: mãe, senta um
pouquinho lá no calminho!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário