Heloísa
Noronha
Um casal deve conversar muito antes de decidir ter ou não
ter filhos
Em algum momento na história da maioria dos casais surja o
assunto: ter ou não ter filhos. O problema é que nem sempre a vontade é a mesma
para ambos. E quando apenas um dos dois alimenta a ideia de ter, há grandes
chances de a relação atravessar períodos de turbulência. Para evitar esse tipo
de crise, segundo especialistas, o melhor seria conversar sobre o projeto ao
perceberem que o relacionamento começa a tomar um rumo mais definido.
"Antes de decidirem viver juntos, é melhor um deixar
claro para o outro o que pretende sobre o futuro. O tempo de fertilidade da
mulher é curto e é ela quem, geralmente, faz mais questão de ter filhos.
Investir em um relacionamento por anos para concretizar esse sonho podo
significar jamais realizá-lo", afirma a psicóloga Ana Cássia Maturano,
co-autora do livro "Puericultura - Princípios e Práticas" (Ed.
Atheneu). "Conversando antes, cada um vai poder refletir se vale a pena
abrir mão do que quer em prol daquele relacionamento", completa.
Segundo o psicólogo Marcelo Lábaki Agostinho, do LEFAM IP
USP (Laboratório de Estudos da Família, Relações de Gênero e Sexualidade do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), o que acontece é que
durante o período do namoro as conversas mais difíceis tendem a ser evitadas.
"Os conflitos trazem o contato com a realidade, que é justamente o que se
quer evitar em uma fase de paixão. A realidade pode provocar um choque na
idealização do que cada um vê de melhor no outro", explica.
Qualquer pessoa que já teve um relacionamento sério já se
pegou dizendo algo que não deveria durante uma briga, e também ouviu frases
capazes de tirar qualquer um do sério. "Tem gente que discute tudo com
muita agressividade, até problemas pequenos", diz a psicóloga e terapeuta
sexual Ana Canosa, autora de "A Metade da Laranja? Discutindo Amor, Sexo e
Relacionamento" (Ed. Master Books). Para ela, a melhor solução para evitar
esse tipo de situação é não discutir quando os ânimos estão alterados e avaliar
o peso do problema que está sendo tratado. "Se sua intenção é detonar o
outro, fale o que quiser. Mas se quiser resolver o problema, algumas coisas não
devem ser ditas", afirma. A seguir, veja quais são as piores frases que
costumam ser ditas em brigas de casais e saiba por que evitá-las. Por Andrezza
Czech, do UOL, em São Paulo.
Portanto, será que um casal que começa a traçar planos
de uma vida em comum consegue abrir espaço para falar sobre essa divergência,
ou seja, se um deles quer ter filhos e o outro não? Provavelmente, a discussão
será adiada e, somente após o casamento, o casal irá se defrontar com o dilema.
Mesmo que o tema seja debatido antes de a relação se
consolidar, não devemos ignorar o fato de que as pessoas mudam com o tempo. E
por isso o assunto precisa voltar a ser debatido com os pés na realidade atual,
não de acordo com o que combinaram no passado.
"No início, quando há uma grande paixão, os filhos
parecem desnecessários. Ao ficarmos mais velhos, as necessidade são outras,
como o desejo de termos herdeiros e uma razão para lutar. Já ouvi de várias
pessoas o quanto passaram a se sentir fortes e lutadoras quando se tornaram
pais e mães", afirma Ana Cássia.
A terapeuta de família Elenice Gomes, da APTF (Associação
Paulista de Terapia Familar), diz que o diálogo é sempre o melhor caminho para
o entendimento de qualquer relação. "Mudar de ideia faz parte da dinâmica
das pessoas, é vital. Se houver mudança de pensamento ou desejo, mais conversa
é necessária para o realinhamento do casal", declara.
Você está preparada para ser mãe?
A decisão envolve questões como estabilidade emocional,
situação financeira, capacidade de lidar com rotina e vida pessoal,
profissional e amorosa, entre outros. Faça o teste e descubra se está pronta
para a maternidade.
Motivações e temores em discussão
Ao discutir o assunto, é preciso que os dois levem em
consideração o que cada um quer, sem deixar de lado aquilo que o outro almeja.
Analisar a fundo argumentos e motivações é fundamental. O projeto sonhado de um
filho está relacionado a quais desejos inconscientes de cada ser humano? Pode
ser, por exemplo, a reparação de cuidados infantis que foram sentidos como
insuficientes para o sonhador, entre outras coisas. Se há um empecilho grande
para gerar uma criança, como uma questão financeira pouco propícia, o melhor é
que se organizem.
"Muitas vezes, o problema não é de ordem prática, e,
sim, emocional: há pessoas que não se sentem capazes de exercer a função de pai
ou mãe. Se esse for o caso, o melhor é dividir com o cônjuge esse temor.
Ninguém nasce preparado para isso, só a experiência faz um pai ou uma
mãe", diz Ana Cássia. "Talvez o desejo de ter ou não um filho pode
agregar outras divergências. Tenha em mente que a decisão de ter um filho é
algo para toda a vida, o que traz questões mais prementes e intensas para o
casal", afirma Marcelo.
Para o especialista da USP, nem sempre os prós vêm somente
de uma parte do casal, assim como os contras não são necessariamente
característica da outra parte. "Talvez para quem é a favor de ter um
filho, em uma discussão séria e aberta, possam aparecer também aspectos
contrários e vice-versa", conta. Ele ainda explica que o casal deve
ponderar questões reais, como abrir mão de projetos individuais.
É inegável que a sinceridade e o diálogo devem ser a base de
um relacionamento amoroso. Não são poucos os momentos, porém, em que nos
calamos por receio de magoar o outro. Em vez de resolver os problemas, no
entanto, essa atitude adia um confronto inevitável. Segundo especialistas,
algumas verdades precisam ser ditas para o bem do casal. O importante é saber
como dizê-las. Veja, a seguir, alguns exemplos. Por Heloísa Noronha, do UOL, em
São Paulo Lumi Mae/UOL
Ceder ou insistir?
Abrir mão de ter um filho para satisfazer a vontade do
parceiro ou por medo de o casamento ruir, pode arruinar não só o relacionamento
como a vida inteira de quem teve de desistir. Porém, aceitar conceber uma
criança para atender um desejo unilateral também pode ter efeitos devastadores.
"Dificilmente essa relação irá adiante assim", diz Elenice.
Entretanto, se não houver ruptura imediata do vínculo
conjugal, quem "engoliu" o filho, certamente não terá um bom
relacionamento com ele nem com quem decidiu tê-lo. Mais cedo ou mais tarde os
relacionamentos se deteriorarão. "
Quando um casamento não sobrevive à chegada de um bebê, há o
perigo de a criança ser responsabilizada pelo fracasso. Isso nem sempre ocorre
de uma forma direta, mas a partir de aspectos inconscientes que surgem
nas relações humanas. As funções materna e paterna são importantes no desenvolvimento
e formação de qualquer criança, não importa quem as exerça.
Em quais casos vale a pena ceder e aumentar a família? Para
a terapeuta familiar Elenice Gomes, entregar os pontos pode ser bom quando as
dúvidas pairam no ar e o temor é o fator paralisador. "Esse medo pode até
ser positivo, porque ter filhos hoje é um grande desafio no que diz respeito a
educar, sustentar e amparar. E trabalhar a superação dos nossos medos faz parte
de nossa evolução", diz.
No caso das mulheres que anseiam muito pela maternidade, é
preciso resistir à tentação de provocar uma gestação sem o apoio do homem.
Mesmo com o tão sonhado bebê nos braços, a relação corre o risco de naufragar,
já que o parceiro pode encarar a atitude como uma deslealdade. Por outro lado, o
rompimento do casal é saudável quando um dos dois está irredutivelmente
decidido a não ter o filho. "Não dá pra caminhar juntos quando os dois
estão diante de uma encruzilhada e cada um quer seguir um caminho diferente do
outro", fala Elenice.
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