Roberto Amado 26 de agosto de 2013
Os sintomas da Síndrome de Asperger trabalharam a seu favor.
Messi é autista. Ele foi diagnosticado aos 8 anos de idade,
ainda na Argentina, com a Síndrome de Asperger, conhecida como uma forma branda
de autismo. Ainda que o diagnóstico do atleta tenha sido pouco divulgado e
questionado, como uma maneira de protegê-lo, o fato é que seu comportamento
dentro e fora de campo são reveladores.
Ter síndrome de Asperger não é nenhum demérito. São pessoas,
em geral do sexo masculino, que apresentam dificuldades de socialização, atos
motores repetitivos e interesses muito estranhos. Popularmente, a síndrome é
conhecida como uma fábrica de gênios. É o caso de Messi.
É possível identificar, pela experiência, como o autismo
revela-se no seu comportamento em campo — nas jogadas, nos dribles, na
movimentação, no chute. “Autistas estão sempre procurando adotar um padrão e
repeti-lo exaustivamente”, diz Nilton Vitulli, pai de um portador da síndrome
de Asperger e membro atuante da ong Autismo e Realidade e da rede social
Cidadão Saúde, que reúne pais e familiares de “aspergianos”.
“O Messi sempre faz os mesmos movimentos: quase sempre cai
pela direita, dribla da mesma forma e frequentemente faz aquele gol de
cavadinha, típico dele”, diz Vitulli, que jogou futebol e quase se
profissionalizou. E explica que, graças à memória descomunal que os autistas
têm, Messi provavelmente deve conhecer todos os movimentos que podem ocorrer,
por exemplo, na hora de finalizar em gol. “É como se ele previsse os movimentos
do goleiro. Ele apenas repete um padrão conhecido. Quando ele entra na área, já
sabe que vai fazer o gol. E comemora, com aquela sorriso típico de autista, de
quem cumpriu sua missão e está aliviado”.
A qualidade do chute, extraordinária em Messi, e a
habilidade de manter a bola grudada no pé, mesmo em alta velocidade, são
provavelmente, segundo Vitulli, também padrões de repetição, aliados, claro, à
grande habilidade do jogador. Ele compara o comportamento de Messi a um célebre
surfista havaiano, Clay Marzo, também diagnosticado com a síndrome de Asperger.
“É um surfista extraordinário. E é possível perceber características de autista
quando ele está numa onda. Assim, como o Messi, ele é perfeito, como se ele
soubesse exatamente o comportamento da onda e apenas repetisse um padrão”. Mas
autistas, segundo Vitulli, não são criativos, apenas repetem o que sabem fazer.
“Cristiano Ronaldo e Neymar criam muito mais. Mas também erram mais”, diz ele.
Autistas podem ser capazes de feitos impressionantes — e o
filme Rain Man, feito em 1988, ilustra isso. Hoje já se sabe, por
exemplo, que os físicos Newton e Einstein tinham alguma forma de autismo, assim
como Bill Gates.
Também fora de campo, seu comportamento é revelador. Quem já
não reparou nas dificuldades de comunicação do jogador, denunciadas em
entrevistas coletivas e até em comerciais protagonizados por ele? Ou no seu
comportamento arredio em relação a eventos sociais? Para Giselle Zambiazzi,
presidente da AMA Brusque, (Associação de Pais, Amigos e Profissionais dos
Autistas de Brusque e Região, em Santa Catarina), e mãe de um menino de 10 anos
diagnosticado com síndrome de Asperger, foi uma revelação observar certas
atitudes de Messi.
“A começar pelas entrevistas: é visível o quanto
aquele ambiente o incomoda. Aquele ar “perdido”, louco pra fugir dali. A
coçadinha na cabeça, as mãos, o olhar que nunca olha de fato. Um autista tem
dificuldade em lidar com esse bombardeio de informações do mundo externo”, diz
Giselle. Segundo ela, é possível perceber o alto grau de concentração de Messi:
“ele sabe exatamente o que quer e tem a mesma objetividade que vejo em meu
filho”.
Giselle observou algumas jogadas do argentino e também não
teve dúvidas: “o olhar que ‘não olha’ é o mesmo que vejo em todos. Em uma
jogada, ele foi levando a bola até estar frente a frente com um adversário. Era
o momento de encará-lo. Ele levantou a cabeça, mas, o olhar desviou. Ou seja,
não houve comunicação. Ele simplesmente se manteve no seu traçado, no seu
objetivo, foi lá e fez o gol. Sem mais”.
Segundo Giselle, Messi tem o reconhecido talento de
transformar em algo simples o que para todos é grandioso e não vê muito sentido
em fama, dinheiro, mulheres, badalação. “Simplesmente faz o que mais sabe e faz
bem. O resto seria uma consequência. Outra aspecto que se assemelha muito a meu
filho”.
Outra característica dos autistas, segundo ela, é ficarem
extremamente frustrados quando perdem, são muito exigentes. “Tudo tem que sair
exatamente como se propuseram a fazer, caso contrário, é crise na certa. E
normalmente dominam um assunto específico. Ou seja, se Messi é autista e
resolveu jogar futebol, a possibilidade de ser o melhor do mundo seria mesmo
muito grande”, diz ela.
A ideia de uma das maiores celebridades do mundo ser um
autista não surpreende, mas encanta. Messi nunca será uma celebridade
convencional. Segundo Giselle, ele simplesmente será sempre um profissional que
executa a sua profissão da melhor forma que consegue — mas arredio às
badalações, às entrevistas e aos eventos. “Ele precisa e quer que sua
condição seja respeitada. Nunca vai se acostumar com o assédio. Sempre terá
poucos amigos. E dificilmente saberá o que fazer diante de um batalhão de
fotógrafos e fãs gritando ao seu redor. De qualquer modo, certamente a sua
contribuição para o mundo será inesquecível”, diz ela.
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