quarta-feira, 10 de julho de 2013

A DIFERENÇA ENTRE AMOR E PAIXÃO




Regina Navarro Lin

 
Quase todos que responderam à enquete da semana acreditam que existe diferença entre amor e paixão.E eu concordo com eles.

Paixão, amor romântico e amor são sentimentos distintos, embora com freqüência confundidos. A paixão é sem dúvida a que causa mais tormentas. Sua característica principal é a urgência; é tão invasiva e poderosa que pode fazer com que sejam ignoradas todas as obrigações habituais.

Perturba as relações cotidianas, arrancando a pessoa das atividades a que está acostumada, deixando-a completamente fora do ar. É comum se fazerem escolhas radicais e muitas vezes penosas — falta-se ao trabalho, larga-se o emprego, muda-se de cidade, abandona-se a família. 

O filme Perdas e danos ilustra bem isso. Um homem que ocupa importante cargo no governo e feliz com a família dá uma guinada dramática na vida ao se apaixonar pela noiva do filho. 


Para o sociólogo inglês Anthony Giddens, o amor apaixonado tem sido sempre libertador, mas apenas no sentido de gerar uma quebra da rotina e do dever. Foi precisamente essa qualidade que sempre o colocou à parte das instituições existentes.Até pouco tempo atrás, nunca foi aceito como base para o casamento; ninguém ousava criar ligações duradouras a partir de um amor apaixonado.


A paixão é de certa forma um fenômeno universal, mas o amor romântico é específico do Ocidente. Aproveitou alguns elementos da paixão, se diferenciando dela em importantes aspectos.Ao contrário da paixão, em que ninguém consegue raciocinar, o amor romântico prevê uma vida a dois estável e duradoura.


Geralmente ele está associado ao amor à primeira vista, ao casamento e à maternidade e também à crença de que o verdadeiro amor é para sempre.Desde o início se “intuem” as qualidades da pessoa, e a atração que se sente ocorre na mesma medida em que se supõe que ela vá tornar completa a vida do outro.


A atração sexual que se sente no amor romântico é mais tranquila, bem diferente do ardor sexual enlouquecido, componente importante da paixão. O parceiro é idealizado e nele se projeta tudo o que se gostaria que ele tivesse. Como não poderia deixar de ser, esse tipo de amor não resiste ao cotidiano.


A intimidade impede a permanência das idealizações. Os homens nunca tiveram problemas para resolver a questão entre o amor romântico, carinhoso e terno do casamento e a paixão sexual pela amante. E a vida seguia em frente com o confinamento da sexualidade feminina ao lar, e a mulher orgulhosa por ser considerada “respeitável”.


Falta falar do amor sem projeções e idealizações, que existe por si mesmo, só para amar e ser amado. O que se sente nesse amor? Prazer de estar com o outro, vontade de dividirmos as questões existenciais, participar de sua vida e permitir que ele participe da nossa, ser solidário, torcer pela pessoa, sentir saudades.

FISIOLOGIA EXPLICA PORQUE O AMOR É CEGO



ROSANA FERREIRA
Editora-assistente de UOL Estilo Comportamento
 

A paixão tem duração de aproximadamente 12 a 48 meses, segundo estudos

 SAIBA COMO SÃO OS SINTOMAS DA PAIXÃO

Desde a adolescência, a médica paulista Cibele Fabichak se perguntava sobre vários assuntos relacionados a amor, emoções e sexo. Quando entrou na faculdade de medicina, já no primeiro ano, apaixonou-se por fisiologia e começou a buscar as respostas nesta área para suas dúvidas. O resultado é o livro “Sexo, Amor, Endorfinas & Bobagens” (Editora Novo Século, R$ 29,90), em que a médica explica por meio de estudos científicos como funcionam os mecanismos da paixão e do amor no corpo e na mente.
A primeira pergunta da entrevista, portanto, não poderia ser outra: o amor pode ser explicado biologicamente? “Sim, já temos vários trabalhos para entender melhor como funciona o cérebro e os hormônios, além de outros elementos, como história pessoal, cultura e ambiente”, diz. Ela cita a antropóloga americana Helen Fisher, que classificou o amor em três etapas:
  1ª – Desejo sexual, em que o principal hormônio envolvido é a testosterona.
  2ª – Atração física ou sexual, caracterizada por grande euforia e felicidade intensa. Fase regida pelos hormônios que proporcionam bem-estar, como dopamina, endorfina e serotonina.
  3ª – Vínculo duradouro, o amor.
Diante dessa classificação, outra pergunta é automaticamente respondida: o amor pode vir com o tempo. Mas, e o tal do famoso amor à primeira vista? De acordo com Cibele, seria mais correto dizer paixão à primeira vista. Segundo ela, o grande gatilho é olhar e gostar. Os estudiosos buscam explicação para esse comportamento nos homens primitivos: a natureza busca a procriação, portanto é importante que o macho (principalmente) tenha uma visão que o atraia. E esse mecanismo precisa agir rápido nos animais, porque o período fértil é curto para fêmea. “O ser humano herdou dos primórdios esse encantamento rápido pela fêmea. E esse comportamento é universal, de acordo com pesquisas feitas com vários povos”, afirma a médica.
A mulher também é atraída pela visão, mas nem tanto. Para ela é importante visualizar também o aspecto emocional no homem. E aí entram outros elementos: cultura, bom humor, status social, se dá segurança, se é provedor. “A velocidade com que o homem se apaixona é mais rápida. Já a mulher demora mais porque ela precisa de tempo para avaliar”, conclui Cibele.
Por que o amor é cego? 
Pesquisas demonstram que a paixão tem duração de aproximadamente 12 a 48 meses. “Esse seria o tempo para fortalecer a união, acontecer o ato sexual, a gestação e a criação do bebê (até que tenha certa independência, por volta dos 2 anos). A natureza faz as contas perfeitamente”, brinca Cibele.
E isso só é possível porque, quando o indivíduo está apaixonado, o sistema límbico (central das emoções) produz uma avalanche de substâncias que tornam o amado “perfeito”. Por isso se diz que o amor é cego, além ser uma boa explicação para escolhas erradas, casamentos precipitados e afins.

Quando passa essa onda de prazer que distorce os novos julgamentos, o casal começa a enxergar o outro exatamente como ele é. Se os laços formados são fortes e existem outros elementos que ligam o casal além do sexo, a parceria continua. 

A médica, no entanto, avisa que o principal ponto para a manutenção da união é o novo. “O casal deve realizar atividades novas, como um jantar romântico de vez em quando, tentar posições sexuais diferentes, planejar viagens etc.”, aconselha. “A cada novidade, nosso cérebro ativa as substâncias que trazem prazer”, diz.
Rompimento 
Estudos mostram que a pessoa apaixonada se acostuma com as substâncias produzidas pelo cérebro que geram uma onda de prazer e satisfação. “Após a separação, é como se o cérebro estivesse ‘viciado’, por isso o indivíduo entra em estado de abstinência”, explica a autora.
Como resultado, pode-se citar a raiva, a busca intensa pelo parceiro e até o aumento do estado de paixão, já que são mantidas as atividades cerebrais que estimulam a paixão. “Essa fase pode demorar de dias a meses”, avisa a médica. E, a partir do momento em que cessam os estímulos do parceiro, a pessoa pode entrar numa fase de tristeza e depressão.
“Toda essa química do cérebro começa a diminuir e a estimular a atividade do córtex pré-frontal, região importante para o julgamento crítico, discernimento. Começa, então, a construção do ódio, o oposto do amor, e sentimento de total distanciamento, o que facilita o rompimento”, explica a especialista.

Segundo ela, algumas exageram e chegam à vingança. Vários elementos, como educação, personalidade, cultura, ambiente, transtornos psíquicos etc., vão determinar se o indivíduo vai passar por essas fases e seguir em frente ou cometer loucuras de amor.